A Reuters pediu a adolescentes e adultos mexicanos com obesidade para colocarem nas mesas de suas casas, os alimentos que ingeriam ao longo de um dia, antes de entrarem num programa de perda de peso.
Ao longo de 12 anos, com a ajuda de equipas compostas por médicos, nutricionistas e psicólogos, mais de 150 adolescentes mexicanos reaprenderam a alimentar-se e a perder peso.
Um dos casos apresentados, pela Reuters, é o de Daniela, natural da cidade mexicana de Texcoco, que com apenas 11 anos, e 75 Kg, teve um ataque cardíaco. A adolescente pesa, atualmente, 81 quilos e frequenta o programa de perda de peso do Hospital Infantil Federico Gomez, na capital mexicana.
Mas nem sempre o resultado é o esperado. “Em vez de perder peso, estou a ganhá-lo”, lamenta Daniela.
Mas o caso de Daniela é muito particular. Para além de ter um problema de rins, sofre também de diabetes, uma doença cujas complicações já mataram oito dos seus familiares.
Daniela diz que tenta cumprir o plano delineado pela equipa do hospital, que inclui exercício físico e uma alimentação cuidada, mas quando a diabetes se torna difícil de controlar e os níveis de açúcar baixam, ela precisa de doces para os regular.
“Isso causa-me muita ansiedade e depois preciso de doces para compensar”, refere.
De acordo com um levantamento realizado pelo Governo mexicano em 2018, cerca de 80% dos cidadãos do país consomem refrigerantes diariamente e mais de metade dos adolescentes ingerem snacks e doces processados ou sobremesas todos os dias.
As estatísticas refletem que a percentagem de pessoas que sofre de diabetes no país aumentou um ponto percentual nos últimos dois anos, e está agora nos 10,3%.
O impacto de medidas governamentais, como o aumento de impostos sobre os preços dos refrigerantes ou a regulação da venda de junk food a menores não acompanhados, tem sido quase insignificante.
No entanto, não se pode responsabilizar apenas as crianças, adolescentes e pais pelo consumo deste tipo de alimentos.
O próprio Governo mexicano tentou, em 2020, implementar uma lei que obrigava as empresas que operavam no país a etiquetar as embalagens de comida potencialmente perigosa para a saúde, mas não conseguiu.
Países como os Estados Unidos, Canadá, Suíça e outros da União Europeia, onde estão sediadas algumas das maiores empresas da indústria alimentar ao nível mundial, opuseram-se à implementação da lei no México, alegando vir em má altura devido à pressão económica colocada no sector pela pandemia de covid-19.
Em declarações à Reuters, Barry Poplin, professor e investigador na Universidade da Carolina do Norte, indicou que 45% das vitimas mortais da pandemia eram hipertensas, 37% tinham diabetes e 22% sofriam de obesidade, acrescentando que “a diabetes é uma bomba relógio”.