O vegetarianismo está em tendência crescente, no entanto suscita ainda algumas dúvidas e preconceitos. A revista “Vida Extra” procurou respostas às questões mais pesquisadas no Google sobre este estilo de vida e o site da ON partilhou-as.
A primeira prende-se com a diferenciação entre o vegetariano e o vegan. Como a fonte explica, o vegetarianismo é, na definição da Associação Vegetariana Portuguesa, o «estilo de alimentação de base vegetal, que exclui carne e peixe e que pode ou não incluir derivados de origem animal». Se as limitações forem aplicadas apenas na alimentação são vegetarianos, mas se forem mais longe e excluírem todos os produtos de origem animal – deixarem de vestir lã, usar cosméticos testados em animais – já são vegans.
A questão nutricional e relativa à preocupação de substituição proteíca, Sandra Gomes Silva – nutricionista, vegetariana desde 2014 e autora do blogue “O Vegetariano” – criou um guia que pretende ajudar a perceber como se pode obter «todos os nutrientes importantes» numa dieta de base vegetal. No manual esclarece-se um dos maiores mitos sobre o vegetarianismo – a proteína está disponível em «todos os alimentos de origem vegetal, exceto os óleos e açúcares. É necessário ser assegurado que estes estão a ser ingeridos em quantidades adequadas», é sublinhado. O guia definitivo“Como evitar défices nutricionais numa dieta de base vegetal” pode ser consultado aqui.
«Os alimentos deverão ser a primeira opção para assegurar as necessidades nutricionais», afirma Alexandra Bento sobre a questão dos suplementos nutricionais que não recomenda que sejam utilizados como substitutos de uma alimentação variada. Segundo a bastonária, pode ser «necessário» recomendar alimentos fortificados e suplementos aos «grupos mais vulneráveis».
Para que uma dieta vegetariana seja saudável é necessário que esta seja e corresponda às necessidades nutricionais, daí ser unânime entre os especialistas a opinião de que que adotar este tipo de alimentação a longo prazo deve consultar um profissional de saúde. «A adoção e manutenção de uma alimentação vegetariana, em particular, vegana, exige um conjunto de conhecimentos específicos, alimentares e de composição nutricional dos alimentos, sendo por isso de salientar que os indivíduos que pretendem adotar uma dieta vegetariana a longo prazo, devem procurar acompanhamento de um nutricionista», defende a bastonária da ON. O objetivo é «informar e esclarecer», mas também «aconselhar e acompanhar na prática a sua implementação». O nutricionista torna-se o responsável por estabelecer as «orientações alimentares específicas» e assim evitar défices nutricionais. Mas as fontes referem que o acompanhamento também deve ser feito com o médico de família, porque «quem tem uma alimentação vegetariana deverá avaliar regularmente alguns parâmetros, nomeadamente os níveis de vitamina B12», explica Sandra Gomes Silva.
Sobre os motivos que conduziram à opção da dieta vegetariana, segundo a fonte, a os motivos mais evocados são as questões éticas – considerarem cruel a forma como a indústria trata os animais -, e a questão ambiental – como exemplo é dado o da pecuária, como sendo uma das indústrias mais poluidoras do mundo, sendo responsável por 18% das emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial. O número foi concluído de um estudo de 2006 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Quanto à dúvida sobre a recomendação deste regime na infância, a American Dietetic Association, a DGS e a Ordem dos Nutricionistas reúnem consenso «Dietas vegetarianas bem planeadas são apropriadas para indivíduos durante todas as fases do ciclo de vida, incluindo gravidez, amamentação, infância e adolescência, e para atletas».
Desde que devidamente controladas para proporcionarem as necessidades nutricionais da criança, as dietas vegetarianas são recomendáveis na infância. «Os pais ou encarregados de educação devem procurar informar-se sobre o padrão alimentar vegetariano e garantir que os seus filhos são devidamente acompanhados por profissionais de saúde, de modo a salvaguardar o seu crescimento e estado de saúde», explica a bastonária da Ordem dos Nutricionistas.
Quanto aos suplementos alimentares, Alexandra Bento defende que devem ser considerados apenas «no caso das necessidades nutricionais não se atingirem através da alimentação». Sandra Gomes Silva, co-autora de dois manuais sobre alimentação vegetariana na infância, diz que «a suplementação e/ou a ingestão de alimentos fortificados é necessária e deve ser aconselhada», com especial atenção à «proteína, ácidos gordos essenciais, ferro, zinco, cálcio, iodo e vitaminas D e B12». Os bebés vegans em fase de amamentação devem tomar suplementos de vitamina B12 e D e «ter uma fonte segura de ferro (suplemento ou alimentos fortificados), em determinados períodos de tempo durante o seu primeiro ano de vida».
«Uma criança vegetariana cresce e desenvolve-se de uma forma totalmente adequada, sem qualquer comprometimento, desde que as necessidades nutricionais sejam atingidas», afirma reforçando a necessidade de acompanhamento profissional.
Sobre qual dieta mais saudável, e segundo as «Linhas de Orientação para uma Alimentação Vegetariana Saudável», documento da DGS, os estudos realizados nos últimos anos têm evidenciado duas informações, uma em relação ao consumo excessivo de produtos de origem animal, relacionado com um risco aumentado de vários tipos de doenças crónicas e outra que indica que produtos alimentares como fruta e hortícolas, leguminosas, cereais integrais têm sido associados a um menor risco de doenças crónicas e a uma «maior longevidade».
Tanto a DGS como a American Dietetic Association referem, nos documentos em que expressam a posição sobre o vegetarianismo, estudos nos quais foram fundamentados «benefícios importantes e mensuráveis das dietas vegetarianas» na prevenção e tratamento de doenças, como doença oncológica, obesidade ou doença cardiovascular.
A Ordem dos Nutricionistas sublinha que, «como qualquer outro padrão alimentar», estas dietas podem ser «inadequadas», e que «não é possível designar o padrão alimentar vegetariano de mais saudável». «Uma dieta vegetariana, se mal planeada, com défice de nutrientes ou com consumo excessivo de alimentos processados ricos em sal ou gordura, pode ser bastante prejudicial para a saúde», explica a bastonária.
Esta posição é corroborada pela DGS que esclarece que «a adoção e manutenção de uma dieta vegetariana, em particular, uma dieta vegana, exige um mínimo de conhecimentos específicos, alimentares e nutricionais, que apesar de serem simples, não são intuitivos.»
Outra das questões levantadas prende-se com os números da população vegetariana. O estudo da Nielson para o Centro Vegetariano revelou, em 2017, que as mulheres (em comparação com os homens) apresentam a «maior percentagem de não consumo». A nível de faixa etária, entre os 25 e 34 anos foram os que mais afirmaram não consumir carne, peixe, ovos e laticínios. Em Portugal, 1,2% da população não come nem carne nem peixe e 0,6% é vegan.
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