O populismo anda por aí 2507

É já no próximo dia 10 que os portugueses são novamente chamados às urnas, para eleger os deputados à Assembleia da República e, assim, escolher um novo Governo. Para além da já habitual análise e discussão das propostas de cada partido, um dos destaques no panorama político atual tem sido o crescimento de movimentos populistas, fenómeno que não é recente nem exclusivo do nosso país. Mas, para lá do aparato dos discursos mais radicais e dos receios que desperta, o que é afinal este populismo crescente e como se pode identificar? E será este fenómeno exclusivo da política, ou terá também reflexo noutros setores da sociedade? Não sendo fácil definir uma doutrina populista, há três traços que nos ajudam a identificar o populismo e estar alerta.

Uma das primeiras marcas do discurso populista é o confronto com o “sistema”. Nos populismos, há sempre “privilegiados”, pessoas ou entidades que criam, controlam ou usufruem de um “sistema” que beneficia alguns, prejudicando todos os demais. O populista afirma-se, assim, como alguém capaz de dar voz aos que estão em dificuldades, aos desprotegidos e aos excluídos do tal “sistema”. Promete combater os “privilegiados” e não hesita em usar todo o tipo de recursos para se mostrar como um dos desfavorecidos, mesmo quando usufrui (ou quer usufruir) das vantagens e privilégios que critica nos outros.

Para o populista não importa se as propostas que apresenta são realistas, exequíveis ou verdadeiramente justas. Importa apenas que sirvam para mostrar trabalho ou capitalizar o descontentamento existente. A teatralidade é uma das marcas do populista e, por isso, o seu discurso visa sempre a autopromoção ou o estímulo de conflitos e divisões. Os populistas cativam porque conseguem, de forma aparentemente credível, anunciar grandes promessas capazes de tudo resolver. Também não hesitam em recolher os louros pelo trabalho de outros ou de apresentar como suas ideias que na realidade não tiveram. E em caso de falhanço, a culpa será sempre de alguém que não eles…

Um outro ponto comum a todos os populistas é a ambição de atingir o poder e por lá se perpetuar. Com o pretexto de mudar o sistema, pretendem na realidade criar o seu próprio sistema. É por isso frequente vê-los a interferir nos normais mecanismos democráticos: forçar eleições na expetativa de ganhar legitimidade, exigir regras feitas à sua medida, ou bloquear/silenciar/controlar movimentos de oposição. Rescrever ou apagar a História também são formas de alimentar uma narrativa única, tipicamente, baseada na desinformação e nos discursos repletos de meias-verdades.

Assim, mais do que nunca, e particularmente em véspera de eleições, é importante que cada um de nós aprenda a “desconfiar” de quem tudo promete ou anuncia, treinando a capacidade de analisar o discurso político. Como em tantas coisas na vida, poderá ser difícil encontrar um candidato com quem nos identifiquemos em tudo, alguém que possa dar resposta a todas as nossas necessidades e anseios. Mas vale a pena dedicar algum tempo a entender as propostas que nos são apresentadas para, pelo menos, fazermos escolhas mais informadas. Porque o populismo anda por aí, e garantir que não seja para ficar só depende de nós.

p.s.: o autor não tem qualquer filiação partidária nem participa em qualquer projeto político.

Por Rodrigo Abreu
Nutricionista – Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição®