“O Orçamento do Estado não tem nada que diga respeito à nutrição”, critica bastonária 1134

A bastonária da Ordem dos Nutricionistas lamentou esta quarta-feira que o Orçamento do Estado para 2023 seja omisso no que se refere à nutrição, lembrando que a pandemia, a guerra e a inflação agravaram a pressão nos cuidados nutricionais.

“Há circunstâncias que agravaram a premência nos cuidados nutricionais, como a pandemia, a guerra na Europa, com a pressão nos sistemas alimentares, mas também a inflação, que todos sentimos. E o Orçamento do Estado não tem nada que diga respeito à nutrição, o que é preocupante pois deve ser uma área de clara aposta”, afirmou Alexandra Bento, sublinhando que “a maior parte da mortalidade está relacionada com maus hábitos alimentares e com o estilo de vida”, cita a Lusa.

A bastonária, que falava na comissão parlamentar de Saúde, onde esta terça-feira foram ouvidas diversas ordens profissionais da saúde, disse que “os números falam por si”, recordando que dos cerca de 4.800 nutricionistas só 5% estão no Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Há 160 nos cuidados de saúde primários e 280 nos cuidados hospitalares. Como é possível com 240 nutricionistas no SNS fazer face às necessidades da população?”, questionou a responsável.

Sublinhando que os 4.800 nutricionistas registados na Ordem “poderiam ser suficientes se estivessem no lugar certo”, Alexandra Bento apontou ainda a emigração como problema transversal a outros profissionais da saúde. “100 saíram para países da União Europeia e outros 100 para outros países”, disse a especialista, considerando que é essencial “colocar nutrição no centro de atuação em saúde publica”.

Bastonário garante que é preciso rever preços dos genéricos

Disse que na área da promoção de escolhas saudáveis “muito se tem feito”, mas considerou que, ainda assim, se corre “sempre atrás do prejuízo” e destacou a importância de controlar o preço dos alimentos. “É importante controlar porque é um dos determinantes para escolher melhor e comer melhor”, disse a bastonária, que juntou ainda a necessidade de insistir na promoção da literacia em saúde, designadamente em saúde alimentar.

“Mas a nossa preocupação vai para alem do SNS. É preciso ter nutricionistas também nas escolas e nos lares”, afirmou a responsável, que lembrou o concurso para contratação de 12 destes profissionais para os estabelecimentos de ensino: “É um início, é salutar e importante, mas claramente insuficiente”. Defendeu ainda a necessidade de autonomizar a carreira de nutricionista e de valorizar estes profissionais, “para permitir condições justas e adequadas para o exercício da profissão”.

Sobre o Orçamento do Estado para 2023, destacou a “maior aposta financeira na saúde” e a consignação da receita no imposto das bebidas açucaradas para prevenção, mas diz que tais medidas serão insuficientes se não forem alocados recursos orçamentais de forma correta, considerando que a proposta orçamental “pode e deve ser melhorada”.