O contexto de contenção social imposto devido à pandemia por Covid-19 veio introduzir barreiras económicas, psicológicas e nutricionais que se traduzem numa alimentação menos saudável de um ponto de vista qualitativo e quantitativo.
O Inquérito sobre a Alimentação e Atividade Física em Contexto de Contenção Social(1) dirigido pelo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), sob a tutela da Direção-Geral de Saúde, registou mudanças nos hábitos alimentares, nomeadamente o aumento do consumo de refrigerantes, snacks salgados, refeições do tipo take-away e pré-preparadas e a diminuição do consumo de hortofrutícolas. Adicionalmente, 26,4% dos inquiridos reconheceram a perceção que o seu peso tinha aumentado.
O PNPAS desenvolveu várias iniciativas ao longo de 2020, para otimizar o estado nutricional da população, em geral, e, no contexto da intervenção nutricional e alimentar na COVID-19, auxiliando na adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, durante este período de confinamento.
Sendo que os hábitos alimentares adequados têm um papel preponderante na saúde da população(2), e prevendo que toda esta situação pandémica não termine num espaço temporal relativamente curto, é fundamental o desenvolvimento de novas políticas alimentares e nutricionais que, de algum modo, permitam atenuar e, se possível, reverter os danos do isolamento social na alimentação dos portugueses. Para que isto seja possível, é essencial que o nutricionista se envolva cada vez mais no processo político, e que por outro lado também lhe seja atribuído um maior valor e responsabilidade, de forma a levar mais além as políticas alimentares e nutricionais adotadas, e os seus outputs.
O nutricionista, além de ser um profissional com capacidade para trabalhar autonomamente, tem também a sensibilidade necessária para integrar equipas multidisciplinares. Possui a capacidade única de entender padrões alimentares, bem como o know-how de os melhorar e, desse modo, considera-
se imprescindível a sua aproximação ao poder político e em maior número, de forma a influenciar positivamente as políticas que visam melhorar os hábitos alimentares dos portugueses.
Em suma, é cada vez mais urgente proceder à inclusão do nutricionista em equipas multidisciplinares, próximas do poder político, de forma a influenciar positivamente as políticas adotadas. O contexto pandémico apenas salientou a necessidade pré-existente de colocar o nutricionista como principal influenciador das políticas alimentares nutricionais adotadas.
Referências bibliográficas
(1) PNPAS, PNAF (2020) REACT-COVID-Inquérito sobre alimentação e atividade física em contexto de contensão social. Direção-Geral de Saúde.
(2) PNPAS (2020) Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Direção-Geral de Saúde.
Rita Graça e Rui Bento
ANEN – Associação Nacional de Estudantes de Nutrição