Basta um rápido deslizar pelo feed das redes sociais para, quase de certeza, encontrar alguma “celebridade” a apoiar qualquer tipo de produto ou serviço. É das estratégias de comunicação mais usadas para validar uma venda ou escolha, sendo particularmente útil quando se trata de algo novo – o desconhecimento da marca ou produto é compensado pelo reconhecimento da cara familiar à audiência. Veja-se o caso da Happy Viking, uma nova marca de suplementos vegan, que conta com a notoriedade da (ex) tenista Venus Williams. Aquilo que podia ser apenas mais um batido vegan, ganha subitamente um impulso de publicidade e não são propriamente as características nutricionais do produto que se destacam, mas sim o storytelling em torno da celebridade e o seu percurso rumo a uma dieta plant-based. De forma diferente, a utilização de uma cara conhecida também pode servir para validar alguma característica de um produto ou marca já existente. É o caso da reconhecida publicidade de Nespresso com o ator George Clooney, numa busca de associar café com estilo, sofisticação e um toque de boa disposição.
Servem estes exemplos para refletir sobre a utilização de “celebridades” na promoção de consultas de nutrição ou programas de emagrecimento. Desde os primórdios das revistas cor-de-rosa que nos habituámos a ver figuras públicas a exibir os resultados das suas “dietas” – eram os tempos do dr. Tallon ou dr. Póvoas. Atualmente, nas redes sociais, as “celebridades” publicam as suas selfies na Clínica A ou B, e partilham stories cheias de batidos detox com hashtags a condizer. Mas qual o sentido desta forma de comunicar quando falamos de nutricionistas? Um(a) nutricionista precisa de uma cara conhecida para ver validado o seu talento e competência? Um(a) nutricionista é melhor quando “emagrece” uma celebridade? Ter clientes famosos, mesmo que não estejam envolvidas contrapartidas, não é sinal de mais competência. Ao longo dos meus quase 20 anos na CUF tive oportunidade de acompanhar em consulta várias figuras públicas e as razões que as levaram a agendar comigo foram as mais diversas: da comodidade da localização ao acordo com o seu seguro de saúde, passando pela recomendação de um conhecido ou referenciação do médico assistente… No fundo, os motivos que levam a maioria das pessoas, famosas ou não, a escolher qualquer consulta. É, por isso, importante desconstruir a ideia de “nutricionista das celebridades” já que o facto de atrizes, governantes ou atletas irem a determinada consulta não significa, por si só, que se trate de um bom profissional. A notoriedade pode ser atingida de várias formas, mas o verdadeiro reconhecimento profissional demora tempo e depende da consistência na qualidade do trabalho desenvolvido.
Por fim, seria também interessante refletir sobre o comportamento de quem procura promover-se junto dos seus clientes “famosos”. Simples vaidade de aparecer ao lado de uma cara conhecida ou a convicção de que os seus clientes são melhores que os dos outros? Um(a) nutricionista que tem em consulta uma figura pública e lhe pede uma foto para partilhar nas redes sociais, pode estar a minar a sua relação profissional com o cliente e a comprometer a eficácia da sua intervenção. Sejamos claros: não há nada de errado em sentir orgulho no nosso trabalho, particularmente se o reconhecimento vem de pessoas também elas reconhecidas! Mas talvez seja sensato resistir à tentação de ir em busca de mais uns likes e deixar que sejam os nossos clientes a falar por nós (e de nós!), se assim entenderem. Afinal, não há melhor elogio do que aquele que é espontâneo e autêntico, venha ele de clientes famosos ou nem por isso.
Rodrigo Abreu
Nutricionista
Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição