O fim das Dietas de Verão? 1973

Se há coisa que os nutricionistas sabem é que, a partir de abril, aumenta a procura por consultas de nutrição. Também o mercado de dietas, que inclui suplementos para perda de peso, tratamentos estéticos e outros produtos ou serviços para emagrecimento (mais ou menos idóneos), começa a acelerar rumo ao pico de vendas, por alturas de junho/julho. São as chamadas dietas de verão, onde, depois dos chocolates e amêndoas da Páscoa, a prioridade de muita gente é fazer um último esforço para perder uns quilos, já a pensar nos dias de praia que se aproximam. Mas eis-nos num cenário inimaginável, o mundo virado ao contrário por causa de um vírus e todos a pensar no “novo normal” que sairá desta pandemia. Haverá dietas de verão este ano? Pelas restrições que ainda se desconhecem, por compromissos laborais ou por dificuldades financeiras, quantas pessoas irão para a praia este ano? E, apesar do crescimento das teleconsultas, quantas pessoas cancelaram as suas consultas de nutrição ou abandonaram o acompanhamento que estavam a ter? São respostas que ainda não temos, mas nas quais podemos desde já refletir.

Ainda ninguém sabe ao certo que aspetos da nossa vida serão afetados pela COVID-19. Mas uma coisa parece certa: as preocupações com a saúde sairão reforçadas. Não só será maior o número de pessoas preocupadas com a sua saúde, como o foco dessa preocupação será também diferente. A prestação de cuidados de saúde será, necessariamente, mais focada na prevenção da doença e não tanto na sua cura. Manter a saúde, evitar a doença. O que, obviamente, significa atenção acrescida à forma de comer, à manutenção de um estilo de vida ativo e a fatores como a gestão do stress ou do sono, todos importantes vetores de saúde preventiva. Aquilo que os nutricionistas tentam incessantemente transmitir há anos (uma alimentação saudável é para toda a vida e não apenas antes do verão ou no ano novo) pode finalmente ter eco numa fatia significativa da população.

Não sei se o verão atípico que se aproxima representa o fim das dietas sazonais. Mas é, sem dúvida, uma oportunidade única para promover estilos de vida mais saudáveis. Veja-se o aumento das compras online. Vários trabalhos demonstram que, quando compram online, os consumidores reduzem as compras por impulso e comparam mais produtos, melhorando o perfil nutricional dos seus cabazes (embora também se possa reduzir a vontade de comprar alimentos frescos). No campo da atividade física, o estado de emergência tirou carros das ruas e o medo de usar transportes públicos levou as pessoas a deslocar-se de patins ou bicicleta. E com os ginásios fechados, muitas pessoas passaram a mexer-se em casa também. São novos hábitos que, com os estímulos certos, se podem manter na vida pós pandemia, contribuindo para populações mais ativas. E é preciso também potenciar o uso das teleconsultas. De necessidade aguda em tempo de isolamento, podem passar a complemento natural da atividade dos nutricionistas, como ferramenta para reforçar a adesão e motivação a padrões alimentares mais saudáveis.

Por tudo isto, fica a questão: será esta a oportunidade de ouro para acabar com as dietas de verão e aquilo que representam?

Rodrigo Abreu
Nutricionista
Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição