Nos últimos anos temos vindo a assistir a marcadas mudanças no ambiente alimentar e, consequentemente, nutricional. Estas mudanças podem explicar em parte as complexas alterações do comportamento alimentar, com o marketing a exercer um papel determinante na alteração dos hábitos alimentares da sociedade. Uma vez que nos encontramos na era digital, e que os estudantes passam cada vez mais tempo na Internet, o marketing surge como uma ferramenta falaciosa, que pretende encorajar padrões alimentares pouco saudáveis, maioritariamente através da publicidade de produtos ultraprocessados, ricos em gordura, açúcar, sal e de baixa densidade nutricional, apenas com o objetivo lucrativo para as marcas. A natureza desta intervenção não é um acaso, pois pretende afetar preferencialmente estes grupos etários uma vez que, quanto mais jovens, maior o poder influenciador do marketing nos padrões alimentares dos indivíduos. Os meios de comunicação social, para além de informativos, constituem ainda um dos principais veículos do marketing, influenciando as escolhas e criando estereótipos da sociedade, surgindo assim como um determinante de comportamentos, preferências e escolhas alimentares. Para além dos estudantes, cujo acesso a este tipo de produtos é facilitado pela rapidez, conveniência e baixo preço, o marketing também pretende chegar a outro tipo de público. Hoje em dia, existe uma verdadeira explosão e um sem fim de novos produtos. Desse facto, e devido a uma crescente preocupação em termos de saúde, surgem novas alegações nos produtos, nomeadamente “light”, “100% orgânico”, “sem lactose”, “sem glúten”, “baixo teor de açúcar”, que, à primeira vista, parecem ser representativas de alimentos mais saudáveis, embora escondam outras características nutricionais que, na maior parte das vezes, deitam abaixo por completo a sua potencial qualidade nutritiva, visto que estão “carregados” de aditivos ou de outros ingredientes substitutos. Toda esta manipulação dos hábitos e escolhas alimentares por parte das marcas, através do marketing, que exercem foco essencialmente nos grupos populacionais mais vulneráveis a serem influenciados, isto é, nos mais jovens e na maior parte da população que se deixa levar pela “falsa alimentação saudável”, levando a uma escolha inconsciente e desinformada, pode comprometer no futuro a saúde da população, levando a emergir as intolerâncias alimentares e doenças crónicas não transmissíveis, que se tornaram um grande problema de saúde pública. Rafael Torres e Teresa Machado, Direção ANEN |