@nutrisnoinsta 3751

Com o confinamento, aproveitei para explorar um pouco mais o maravilhoso mundo do Instagram, onde os filtros e os hashtags tornam tudo mais belo e cosmopolita. Não sou um utilizador muito ativo de redes sociais, mas nestas semanas dediquei-me a explorar as contas de nutricionistas. Afinal, como (e o quê) andam os nutricionistas a comunicar nas redes?

Desde logo, são notórios estilos muito diferentes. Há as contas que partilham informação técnica sobre ciências da nutrição, infografias e estudos cientificamente validados ou recomendações nutricionais de entidades credíveis. Por vezes também aparece alguma publicação de caráter mais pessoal, como a presença num congresso ou a publicação de algum artigo. São contas interessantes de seguir, pois permitem sinalizar tópicos relevantes nas mais diferentes áreas da nutrição (embora se denote algum foco na nutrição no desporto e no controlo de peso) e, quase sempre, reencaminham o seguidor para fontes ou ligações onde o conhecimento sobre o assunto pode ser aprofundado. No fundo, são colegas que usam estas plataformas para amplificar conhecimento a que, de outra forma, só teríamos acesso se o procurássemos ativamente nos sítios certos. Na maioria das vezes, fazem um trabalho notável de pesquisa e seleção, dedicando o seu tempo para que possamos ter acesso a informação de qualidade, sem qualquer esforço ou custo. Naturalmente, são contas mais orientadas para os pares, outros especialistas ou público mais informado/interessado nas ciências de nutrição, e é difícil que alguém ganhe dinheiro com elas…

Depois, temos as outras contas… Há mais imagens de comida que num folheto de supermercado, as receitas davam para uma enciclopédia culinária e os hashtags ocupam mais carateres que o texto. São contas de estilo de vida (ou “lifestyle”) onde as bolachas de pacote são más, mas os “cookies caseiros” com mel, agave ou açúcar de coco são saudáveis; onde os autores tanto aparecem de bata na consulta, aperaltados numa festa ou com o corpo mais exposto na praia; onde as dicas nutricionais se misturam com produtos de beleza, moda ou viagens. Claramente, são contas em busca do máximo de audiência possível, que visam monetizar os seus conteúdos, alavancando-se em tudo o que possa trazer mais cliques. O mais preocupante nestes casos é a ausência generalizada de menção a possíveis patrocínios, apoios ou contrapartidas recebidas pelas publicações. Para a quantidade de marcas explicitamente apresentadas, são pouquíssimas as vezes onde é feita qualquer referência clara a essas parcerias. Por vezes, no meio da enxurrada de hashtags, lá aparece um tímido #pub ou #ad, o que levanta a questão: há colegas a publicitar marcas gratuitamente (na expetativa de virem a ser apoiados?) ou, havendo contrapartidas, essa relação entre nutricionistas e marcas não é transparente?

Não sou contra os “nutricionistas pop-stars” (como aliás tive oportunidade de escrever em janeiro de 2018), nem acho que os nutricionistas devam apenas publicar ciência. Há várias formas de comunicar mensagens válidas sobre Nutrição, desde que se mantenha o rigor e a transparência. Mas quando os nutricionistas se posicionam nos mesmos moldes de figuras públicas (os agora

abusivamente chamados “influenciadores”), que tanto promovem champôs, vitaminas ou bijuteria, perdem aquele que é precisamente o seu fator diferenciador e suposta mais valia. Afinal de contas, não é preciso estudar uma série de anos, fazer um estágio curricular e ser admitido à Ordem para tirar selfies com um “batido detox” na mão…

Por Rodrigo Abreu
Nutricionista – Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição