Nutricionistas e médicos alertam para risco de consumo excessivo de sementes 900

31 de Outubro de 2016

A ingestão de sementes como a chia, girassol, sésamo ou quinoa está a preocupar nutricionistas e médicos que têm recebido pacientes com problemas causados pelo consumo excessivo destes alimentos, que chegam ao mercado sem controlo de qualidade.

«São produtos vendidos em supermercados, em casas comerciais sem controlo de qualidade nenhuma, induzindo nas pessoas a ideia de que podem consumir à vontade, que é muito saudável, e que não desencadeia qualquer tipo de situação ou sintomas colaterais, mas isso não corresponde à verdade», disse à agência “Lusa” o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, José Cotter.

O médico adiantou que as sementes são utilizadas com o «objetivo principal de estimular o intestino», havendo pessoas que as consomem «indiscriminadamente» e «excessivamente» para esse fim.

Este comportamento pode «originar sintomas de mal-estar», como muita flatulência ou oclusão intestinal (nos casos mais graves) que levam as pessoas ao médico, quando «a solução do problema é reduzirem a sua ingestão», advertiu.

E, segundo especialista, «é muito frequente» aparecerem nas consultas de gastroenterologia doentes com este tipo de sintomas.

Para evitar este risco, o consumo deve ser feito sob orientação médica, uma vez que estes alimentos estão contraindicados em doentes com determinadas patologias, como a doença de Crohn ou perturbações no tubo digestivo.

Para a bastonária da Ordem dos Nutricionista, Alexandra Bento, «o que pode ser verdadeiramente preocupante» é os consumidores acharem que «as sementes são a panaceia dos maus hábitos alimentares».

As sementes sempre foram consumidas e fazem parte do «dia alimentar», como a cevada, a aveia, o arroz ou o trigo, mas o que se está a verificar é que «há novas sementes», como as de abóbora, quinoa, sésamo, trigo-sarraceno ou linhaça, que as pessoas acreditam terem «um valor nutricional acrescido» e consomem-nas em excesso, adiantou.

Alexandra Bento ressalvou que «as sementes são saudáveis» e «importantes para alimentação», porque são ricas em fibras, vitaminas, minerais e outros fitoquímicos, mas não se pode é pensar que vão resolver os problemas alimentares.

«A alimentação saudável é aquela que se pauta pelo equilíbrio, pela variação e pela variedade de alimentos», defendeu, alertando para os perigos das modas na alimentação.

O risco desta «nova moda» é a maneira como as sementes estão a ser ingeridas, disse Alexandra Bento, alertando: O consumo pode ser «perigoso e incorreto» se for feito «sem a diluição perfeita, sem a trituração necessária» e de forma «exagerada», só porque pensa que é «tremendamente saudável».

Por outro lado, defendeu, é preciso acautelar que sejam cumpridas as regras de controlo em termos da legislação.

Como normalmente «as sementes são consumidas cruas ou minimamente processadas», é fundamental acautelar o processo industrial para «evitar a contaminação inicial ou durante o processo de armazenamento e distribuição das sementes», um controlo «muito importante para que não haja risco de micotoxinas [substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos]».

Mas o consumidor também tem que ter cuidados em casa, como ver os prazos de validade, disse a bastonária, rematando: «as sementes podem estar no dia alimentar com conta peso e medida».