Em julho de 2002, o jornal “A Bola” dava destaque à estreia de um nutricionista num clube da 1ª Liga, o Vitória de Setúbal. Na reportagem de uma página, explicava-se aos leitores o papel que a alimentação e estratégias nutricionais poderiam ter na melhoria do desempenho do plantel sadino, já que, para o grande público, a ideia da atuação do nutricionista ainda estava associada exclusivamente à perda de peso.
Passaram quase 20 anos desde que dei aquela entrevista a “A Bola” e o cenário hoje não podia ser mais diferente. Todos os clubes da 1ª Liga (e muitos de outras divisões) contam já com o apoio de nutricionistas, com vista ao planeamento das refeições, controlo da composição corporal dos atletas e elaboração de estratégias para melhorar o rendimento ou a recuperação. Mas não é só no futebol sénior que os nutricionistas atuam e ganham relevância. As alterações no processo de certificação de entidades formadoras, definidas pela Federação Portuguesa de Futebol, contemplam a necessidade e valorização do apoio dos nutricionistas na promoção de bons hábitos alimentares entre todos os jovens praticantes de futebol. De facto, hoje já não é preciso explicar a utilidade do nutricionista no futebol, e uma das razões é o excelente trabalho feito por estes colegas diariamente, tanto com atletas de elite, como nas chamadas “escolinhas”. Aliás, a qualidade da formação e do trabalho dos nutricionistas portugueses é tão boa, que são já vários os que trabalham em equipas de topo fora do País. E se considerarmos o boom do futebol feminino, juntamente com o crescimento do futsal, é fácil perceber que a necessidade de nutricionistas qualificados nesta área nos próximos anos será ainda maior.
No entanto, o futebol é muito mais que apenas um jogo e, num país como Portugal, o seu impacto social é enorme. Muito para lá do que se passa nas quatro linhas ou nos programas onde se comentam “os casos”, o futebol pode contribuir para melhorar a vida de muitas pessoas. E em Portugal, isso já acontece, inclusive com a preciosa ajuda dos nutricionistas. Veja-se o impacto de projetos como as ações de educação alimentar da Dragon Force junto de crianças e jovens. À semelhança de outros projetos similares, o entusiasmo pelo futebol permite a aprendizagem e adoção de comportamentos mais saudáveis, desde tenra idade. Mas não é só entre os mais novos que o futebol pode fazer a diferença. Os resultados espetaculares do projeto Sweet Football, que usa futebol adaptado para melhorar a saúde de doentes diabéticos, mostram que o futebol pode ser um verdadeiro medicamento na promoção da saúde e qualidade de vida. Aliás, o projeto Football is Medicine dedica-se a estudar e demonstrar isso mesmo, analisando e desenvolvendo projetos por todo o mundo, onde diferentes formas de futebol podem ser usadas no combate e prevenção de doenças.
A popularidade do futebol na nossa sociedade, pode torná-lo um importante veículo para promover estilos de vida saudáveis, a inclusão social ou a igualdade. Isto significa uma oportunidade para os nutricionistas não só trabalharem no futebol, mas também com o futebol!
Rodrigo Abreu
Nutricionista – Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição