Nutrição e Disfagia 229

A disfagia, caracterizada pela dificuldade em mastigar e engolir alimentos, é uma realidade frequente nas doenças neurológicas, como a Doença de Parkinson, a Doença de Alzheimer e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC). Estudos mostram que mais de 50% dos doentes com qualquer um destes diagnósticos apresenta disfagia. A negligência deste problema pode ter sérias consequências, incluindo a perda de peso não intencional, a desidratação, a ocorrência de infeções respiratórias ou de pneumonia por aspiração. O acompanhamento especializado é uma peça fundamental para a qualidade de vida e segurança dos doentes com disfagia.

Cada doente é único, exigindo uma abordagem personalizada. Os familiares e cuidadores desempenham um papel fundamental na identificação precoce das dificuldades associadas à alimentação no pedido de ajuda especializada. O acompanhamento numa consulta de alimentação desempenha um papel crucial na avaliação, prevenção e tratamento destas dificuldades, oferecendo planos alimentares personalizados adaptados às necessidades individuais de cada doente, após avaliação especializada. O doente é, ainda, um parceiro ativo na definição de objetivos nutricionais e preferências alimentares. A variedade de opções alimentares é maximizada para atender às necessidades individuais de cada doente, garantindo que o prazer pela alimentação não seja comprometido.

Ao contrário do que dizem alguns mitos nem todos os doentes com disfagia necessitam de adaptar a textura e consistência dos alimentos e, mesmo quando existe essa necessidade, não significa que os purés e papas sejam a melhor opção para salvaguardar a segurança das refeições.

A abordagem da disfagia deve ser multidisciplinar, envolvendo uma equipa de profissionais de saúde, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, médicos, auxiliares de ação médica e colaboradores da restauração para lidar com a condição, especialmente em caso de internamento.

O modelo de cuidados do CNS – Campus Neurológico, centro português especializado em doenças neurológicas, não só tem por base esta multidisciplinariedade. Adicionalmente, através de cursos para profissionais de saúde e cuidadores, rastreios gratuitos e ações de sensibilização, pretende sensibilizar e informar o público em geral sobre as doenças neurológicas. Numa época em que temos acesso a tanta informação é importante garantir que essa informação é credível e tecnicamente correta. A recomendação principal é procurar orientação individualizada com um profissional de saúde especializado e, na dúvida, questionar sempre. Educar e envolver os familiares e cuidadores formais ou informais é igualmente importante, existindo também vários momentos de formação para cuidadores.

Neste Dia Mundial da Alimentação, é importante lembrar que a alimentação desempenha um papel fundamental na nossa saúde ao longo de toda a vida. Não existe um padrão alimentar único, mas sim a importância de adotar uma dieta variada, equilibrada e integrada num estilo de vida ativo e consciente. É essencial compreender que a alimentação desempenha um papel comprovado na prevenção de doenças não transmissíveis e que, em muitos casos de doenças, deve ser guiada por profissionais de saúde qualificados.

Especificamente, nas doenças neurológicas, um acompanhamento nutricional adequado pode significar uma melhoria significativa na qualidade de vida dos doentes e dos seus cuidadores.

Dr.ª Diana Miranda – nutricionista coordenadora da nutrição do CNS – Campus Neurológico