Notas e anotações 1178

08 de agosto de 2016

O termo “superalimento(s)” é recente, controverso e sujeito a críticas. A definição, genericamente aceite, é de que são alimentos naturais que contêm um ou mais componentes que contribuem para a saúde e o bem-estar das pessoas.

Com a crescente incidência das doenças crónico-degenerativas (tais como as doenças cardiovasculares, as diabetes, a obesidade, o cancro e as doenças do sistema gastrointestinal) e a preocupação com a aparência e vitalidade, alguns alimentos ganharam particular relevância, devido à sua associação com melhorias fisiológicas, metabólicas e imunológicas.

Uma vasta gama de alimentos tem sido mencionada, entre frutas (ex. abacate, frutos vermelhos, noni, mangostão e açaí); hortícolas (ex. espinafre, grelo, agrião, alho, brócolos e beringela); cereais integrais (ex. aveia, centeio, cevada e quinoa); leguminosas secas (ex. grão-de-bico e lentilha); frutos oleaginosos (ex. nozes, amêndoa, avelã, castanha e azeitonas); produtos de colmeia (ex. geleia real, grãos de pólen e própolis); óleos vegetais (ex. canola, cânhamo, soja e girassol); infusões (ex. chás e café); alimentos de origem animal (ex. peixes, ostras, crustáceos, ovos e iogurtes), e outros alimentos como spirulina,chlorella, sementes de chia,baobá, gogi e sementes de linhaça.

Embora muitos destes alimentos sejam recomendados como ingredientes de dietas saudáveis, algumas dos efeitos nutracêuticos “milagrosos” carecem de evidência científica, ou não têm durabilidade e relevância quantitativa e qualitativa comprovada, permitindo a utilização abusivado conceito como instrumento de marketing.

Qualificar um alimento de “super” pode minimizar a importância de outros alimentos fundamentais para uma dieta equilibrada, e gerar conflitos de interesse entre produtores e consumidores.

Mais importante ainda, o consumo excessivo ou exclusivo de certos alimentos pode resultar em prejuízos, pois uma alimentação saudável deve resultar do consumo de uma combinação equilibradados diferentes nutrientes.

Ao abordar o conceito, é importante separar os mitos da realidade, apelando simultaneamente à literacia nutricional dos consumidores, à ética dos produtores e à responsabilidade das entidades reguladoras.

Hélder Muteia
Responsável do Escritório da FAO em Portugal e junto da CPLP