A nível global, o sistema alimentar enfrenta inúmeros desafios que ameaçam a sua
sustentabilidade. Enquanto cerca de 815 milhões de pessoas não ingerem alimentos
suficientes para uma vida saudável e ativa, as alterações climáticas se agravam e os recursos
naturais escasseiam, um terço de toda a comida produzida anualmente para o consumo
humano é desperdiçada ao longo de toda a cadeia alimentar. Mas porque desperdiçamos
tanta comida, quando existem tantas pessoas desnutridas e quando, de facto, a humanidade
já produz o dobro dos alimentos de que precisa?
Nos países industrializados, a comida perde-se quando a produção excede a procura. Nos países em desenvolvimento e, às vezes, nos países desenvolvidos, os alimentos podem ser perdidos devido a colheitas prematuras.
Alguns produtos são rejeitados pelos supermercados devido a rigorosos padrões de
qualidade relativos a peso, tamanho, forma e aparência. Instalações de armazenamento
pobres e falta de infra-estruturas causam perdas de alimentos na pós-colheita nos países em
desenvolvimento. A abundância e as atitudes do consumidor levam a um alto desperdício
nos países industrializados.
É preciso agir e quebrar o ciclo do desperdício do sistema alimentar. Este é um desafio
social, económico, ambiental, mas também ético. Porque quando desperdiçamos alimentos,
desperdiçamos recursos que estão sob crescente pressão. Desperdiçamos solo, cada vez
mais degradado e poluído, desperdiçamos água, cada vez mais escassa, desperdiçamos
biodiversidade. Desperdiçamos também o trabalho dos agricultores e agricultoras que todos
os dias produzem os alimentos que chegam à nossa mesa. E se é verdade que a produção
agrícola é uma das principais emissoras de gases com efeito de estufa, que levam ao
aquecimento global, também é verdade que pode representar a chave para alcançar os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Através de políticas públicas apropriadas, que
garantam uma governança eficaz, os agricultores podem produzir alimentos nutritivos,
enquanto conservam a biodiversidades, protegem os ecossistemas e minimizam os
impactos ambientais.
Portugal, acedendo à proposta de elaboração de estratégias nacionais de prevenção do
desperdício alimentar que a Comissão Europeia fez aos Estados membros, criou a Comissão
Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (CNCDA). O CNCDA, através de uma
abordagem multidisciplinar com vista à promoção da redução do desperdício alimentar,
elaborou e propôs a Estratégia Nacional e o respetivo Plano de Ação de Combate ao
Desperdício Alimentar. Algumas das medidas propostas englobam promover ações de
sensibilização junto do consumidor e da população escolar e promover locais específicos
para venda de produtos em risco de desperdício e desenvolver projetos-piloto na área da
saúde e nutrição.
Outras medidas podem também ser eficazes no combate ao desperdício alimentar. Os
Governos, produtores, distribuidores e consumidores estão cada vez mais conscientes para a necessidade de uma ação global em torno do combate ao desperdício do sistema
alimentar. Este é o momento de juntos tornarmos o sistema alimentar mais sustentável e
equitativo.
Francisco Sarmento,
Chefe do Escritório de Informação da FAO em Portugal e junto da CPLP
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