A dieta mediterrânica é amplamente considerada como um padrão alimentar saudável associada a melhorias significativas na saúde e no estado nutricional e reconhecida como uma dieta sustentável. Não representa apenas um regime alimentar, mas um modo de vida que convida à convivialidade e partilha à volta da mesa, numa atmosfera social descontraída e afetiva. Os alimentos, predominantemente de origem vegetal, locais e sazonais são confecionados de forma simples e frugal. Trata-se de um modelo de produção em relação com a Natureza e com os recursos naturais, atualmente ameaçado e com forte relação com as propriedades da dieta. Atualmente, a região do Mediterrâneo está a passar por uma “transição nutricional”, onde a má nutrição coexiste com o excesso de peso e a obesidade, enquanto se regista um aumento de doenças crónicas não transmissíveis, como a diabetes, a hipertensão arterial e as doenças cardiovasculares e um consequente aumento da morbilidade e da mortalidade. Ao mesmo tempo, vários estudos indicam uma tendência de abandono gradual deste padrão alimentar por parte dos países da região mediterrânica, principalmente pelos grupos vulneráveis e em situação de insegurança alimentar. O modo de produção agrícola sofreu alterações nas últimas décadas, contribuindo para a descaracterização deste padrão alimentar. As paisagens agrícolas e alimentares sofreram alterações significativas. Grande parte da biodiversidade perdeu-se. O crescimento da população, a globalização, o comércio dos alimentos, a desertificação das áreas rurais e a urbanização levaram a alterações profundas no estilo de vida e nos padrões alimentares. O consumo dos alimentos que constituem a base da Dieta Mediterrânica, como o azeite, os cereais, os hortícolas e as leguminosas diminuíram, enquanto a ingestão de produtos de origem animal e os lacticínios aumentaram, refletindo-se no estado de saúde e nutricional da população. O reconhecimento pela UNESCO da Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade em Portugal, Espanha, Marrocos, Itália, Grécia, Chipre e Croácia, desde 4 de dezembro de 2013, veio reforçar este padrão alimentar como um modelo cultural, histórico e de saúde. Mas este reconhecimento também traz vários desafios. É preciso promover ativamente uma transição para modelos mais sustentáveis de produção, garantindo alimentos seguros e nutritivos. É fundamental educar e capacitar ao longo de todo o sistema alimentar, de modo a fortalecer e expandir este padrão alimentar. Só assim vamos conseguir preservar e transmitir esta herança cultural identitária às gerações futuras. Francisco Sarmento, Chefe do Escritório de Informação da FAO em Portugal e junto da CPLP |