Sabemos que os sistemas alimentares atuais comprometem a produção alimentar futura e não nutrem adequadamente as pessoas. Se quisermos enfrentar os múltiplos desafios sociais, de saúde e ambientais causados pelos sistemas alimentares precisamos adotar padrões alimentares e produtivos mais saudáveis, respeitosos dos limites ambientais. Há cada vez mais evidências de que padrões alimentares com baixos impactos ambientais são também consistentes com a promoção da saúde e maior democracia alimentar. Tais padrões podem representar uma melhoria substancial na forma como as pessoas comem, tanto em países onde os principais problemas são os de consumo excessivo e inadequado como em contextos de privação no acesso a alimentos ou onde as dietas não têm uma diversidade adequada, contudo, tanto nos países do Norte quanto nos do Sul insistimos em falar de “sistemas alimentares sustentáveis” mas em adiar o início de uma transição alimentar. Será isto sustentável ? Como sabemos o uso do termo “sustentabilidade” difundiu-se de tal forma que é hoje uma unanimidade global, porém, o combate às causas da insustentabilidade alimentar parece não avançar ao mesmo ritmo. Entre as previsões mais ou menos catastróficas acerca do futuro do nosso sistema alimentar e os aquecidos debates sobre eventuais soluções conflituantes, parece não mencionar-se um factor primordial para a necessária transição alimentar rumo a modelos mais sustentáveis: vontade e coragem política para empreender a necessária transição. Esta é talvez mais dificil de concretizar porque implica, na maioria dos casos, uma mudança de paradigma. Os desafios de hoje – incluindo as alterações climáticas – exigem, como sabemos, novas abordagens. Uma delas, talvez a mais expressiva atualmente, é a “agroecologia”. A agroecologia aplica os conceitos e princípios ecológicos para otimizar as interações entre plantas, animais, seres humanos e meio ambiente. Tem também, em consideração, aspetos sociais importantes para um sistema alimentar sustentável entre eles a questão da equidade. Embora a discussão sobre agroecologia esteja ainda a dar passos iniciais em Portugal, não pode deixar-se de referir que a recente aprovação de uma Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica é um exemplo positivo que poderá contribuir para novas dinâmicas no sistema alimentar do país. Portugal possui, aliás, ótimas condições para implementar um processo de transição alimentar para modelos agroecológicos. Este processo que deve ser consensual e assente na agricultura familiar, poderia contribuir para a revitalização de alguns territórios rurais, para um maior dinamismo de alguns setores económicos, novas relações de poder nas cadeias alimentares e melhor alimentação de alguns grupos sociais mais vulneráveis. Francisco Sarmento, |