Os sistemas alimentares conhecem na atualidade alterações bruscas às suas características e dinâmica, como resultado de uma combinação de fatores económicos, sociais, ambientais e políticos. Uma das causas é a expansão da classe média, fruto de fenómenos relacionados com a mobilidade social na Ásia, África e América Latina que, estimula o aumento da procura por proteína de origem animal, açúcares e gorduras. Uma das alterações mais dramáticas é a do consumo de carne que deverá duplicar até 2050, passando de 270 milhões de toneladas por ano para cerca de 450 milhões, relativamente a um crescimento demográfico de aproximadamente 30%. Outra causa é a acentuada urbanização que promove a economia de tempo e dinheiro, intensificando a procura por alimentos mais acessíveis e prontos para consumir. A consequência mais imediata é a diminuição da diversidade alimentar e a adoção de um padrão alimentar menos saudável. Estudos recentes demonstram que a grande maioria da população baseia a sua alimentação em apenas quatro cultivos (arroz, milho, trigo e batata) e, em apenas 12 espécies animais terrestres (entre bovinos, caprinos, roedores e aves). Esta tendência de monotonia alimentar é uma das maiores causas do aumento da deficiência de micronutrientes, e do aumento galopante dos custos hospitalares. A urbanização também estimula o alargamento da cadeia de valor dos alimentos, através do processamento em regime industrial e semi-industrial. Considerando que esta tendência ajuda a criar oportunidades de emprego, a gerar fontes de rendimento e a reduzir o desperdício alimentar, também constitui um desafio pelo uso excessivo de açúcar, sal, gordura, aditivos e conservantes. A mobilidade social e a urbanização também estão entre as maiores causas da elevada incidência de excesso de peso e obesidade que afetam, respetivamente, 1.600 milhões e 600 milhões nos dias de hoje. O envelhecimento demográfico também deixa as suas marcas. Com o aumento considerável da população com mais de 60 anos, as escolhas alimentares são também influenciadas pelas recomendações médicas e nutricionais requeridas nesta faixa etária. O conhecimento destas realidades é importante para garantir a adequação das abordagens de atuação dos nutricionistas e de outros profissionais de saúde. Hélder Muteia, |