Movimento Saúde em Dia apresenta estudo à população e revela novos dados de acesso a cuidados de saúde 591

Sete em cada dez portugueses consideram insuficiente o investimento feito pelo Estado na Saúde e entendem que a falta de profissionais é o principal problema do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Outra das falhas apontados ao SNS prende-se com a dificuldade de relacionamento dos utentes com as instituições, bem como os tempos de resposta.

As conclusões constam de um estudo realizado pela GFK Metris para o Movimento Saúde em Dia, constituído pela Ordem dos Médicos, Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e pela Roche.

O estudo foi feito através de mil entrevistas a adultos em Portugal, com uma amostra representativa da população. As entrevistas ocorreram entre 20 de setembro e 6 de outubro deste ano.

A par desta análise ao que pensam e sentem os portugueses em relação ao estado atual da Saúde em Portugal, o Movimento Saúde em Dia apresenta hoje novos indicadores sobre o acesso ao SNS em tempos de pandemia.

Esta análise, com base nos indicadores oficiais do Portal da Transparência do SNS e do Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários, indicia que a atividade em 2021 está a ser insuficiente para recuperar o que ficou por fazer durante a pandemia.

A título de exemplo, muitos cancros continuam por identificar, dada a redução de rastreios nos casos do cancro da mama, do colo do útero e do reto.

Perante os dados disponíveis da atividade até setembro deste ano, a MOAI Consulting desenvolveu uma projeção do que deverá ser a realidade até ao final de dezembro.

Assim, o Movimento Saúde em Dia deixa algumas das principais conclusões e linha condutoras destas duas análises apresentadas publicamente dia 3 de novembro.

Da análise ao acesso aos cuidados de Saúde no SNS (MOAI Consulting) destaca-se:

Menos 18% de mamografias realizadas; menos 13% de rastreios ao cancro do colo do útero e menos 5% de rastreios ao cancro do cólon e do reto em 2021 comparativamente com 2020;

A incidência de neoplasias mantém a tendência decrescente de 2020, evidenciando que muitos casos de novos cancros ficaram por identificar durante os anos de pandemia: a incidência do cancro da mama reduziu-se, entre 2021 e 2020, em 2% (menos 19% entre 2020 e 2019) ; a incidência do cancro do colo do útero baixou 15% (menos 25% entre 2020 e 2019) e da neoplasia do colon e reto decresceu 9% (menos 22% entre 2020 e 2019);

Apesar do aumento esperado de 14% nos contactos presenciais médicos nos centros de saúde em 2021 face a 2020 (mais 1,8 milhões), este valor mantém-se distante das consultas realizadas em 2019. Nestes dois últimos anos ficaram por realizar 14 milhões de consultas (6,1 milhões e 7,9 milhões comparando 2021 e 2020, respetivamente, com o ano de 2019);

A nível hospitalar estima-se que os valores de consultas e cirurgias em 2021 estejam em linha com 2019. Apesar da retoma assistencial, estes valores são insuficientes para recuperar a atividade não realizada em 2020, pelo que se estima que, entre 2020 e 2021 tenham ficado por realizar mais de 2,8 milhões de contactos com os Cuidados de Saúde Hospitalares (consultas presenciais, cirurgias programadas e episódios de urgência graves), comparativamente com 2019;

Nesta análise da MOAI foram comparados os dados disponíveis referentes ao ano de 2019, 2020 e 2021, com a estimativa dos dados para os últimos meses em falta.

Do estudo à população portuguesa (GFK/Metris) salienta-se:

7 em cada 10 portugueses entendem que o investimento atualmente feito pelo Estado na Saúde é insuficiente;

A prioridade do financiamento na Saúde deveria ir para a contratação de mais profissionais, nomeadamente médicos;

56% dos portugueses avaliam positivamente o SNS, 36% não o consideram ‘nem bom nem mau’ e apenas 7% o classificam negativamente;

9 em cada 10 portugueses são favoráveis à criação de parcerias entre o SNS e os privados para encaminhar doentes nos casos em que o SNS não tem capacidade de resposta em tempo útil.

Apesar da avaliação positiva do SNS, os portugueses apontam como principais problemas a falta de profissionais de saúde (37%) e os elevados tempos de espera para a marcação de atos médicos ou de saúde (42%);

Sobre o impacto da pandemia nos serviços de saúde, 35% dos portugueses entendem que a sobrecarga nos serviços vai prolongar-se por 2022, cerca de 25% dizem que deve durar até final deste ano e há 15% que antecipa que durante o outono a situação deve estar normalizada;

Os portugueses destacam a vantagem de ter médico de família, sublinhando a relação continuada e a proximidade, mas queixam-se dos tempos de espera para marcar consulta e da dificuldade em contactar os centros de saúde;

Como medidas para melhorar o acesso ao SNS, o contributo dos portugueses centra-se em três questões fundamentais: contratação de mais médicos e profissionais de saúde, diminuição dos tempos de espera para consultas e um acesso facilitado a exames ou consultas de especialidade.