Modulação do microbioma intestinal pode ser a chave para atrasar a progressão da esclerose múltipla 1294

Uma equipa de investigadores liderada pela professora Adelaide Fernandes, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, vai investigar novas formas de intervenção clínica na esclerose múltipla, uma doença neurodegenerativa autoimune crónica que é a principal causa de incapacidade neurológica não traumática.

O projeto de investigação, intitulado “Manipulação do microbioma para reduzir a psicopatologia na esclerose múltipla” é o vencedor da 4.ª edição da Bolsa Nacional para Projetos de Investigação em Microbiota, atribuída pela Biocodex Microbiota Foundation, e vai ser desenvolvido ao longo de ano e meio, ao abrigo de um financiamento atribuído em prémio de 25 mil euros, lê-se em comunicado.

De acordo com a professora Adelaide Fernandes, os investigadores vão “modular o microbioma intestinal de ratinhos através de transplantação fecal para avaliar a melhoria da patogénese da doença e dos sintomas psicopatológicos”. O objetivo é alcançar um alívio dos sintomas e a redução da patogénese da doença, “o que pode ser um primeiro passo para melhorar a qualidade de vida dos doentes com esclerose múltipla, ao retardar ou parar a evolução da doença”.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde esta doença atinge 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo e cerca de oito mil em Portugal (Gisela Kobelt, 2009). A esclerose múltipla é uma doença neurodegenerativa autoimune crónica e a principal causa de incapacidade neurológica não traumática. A professora Adelaide Fernandes explica que “apesar de acometer principalmente adultos jovens, a idade de início da doença é um fator determinante de piores episódios de recaída com um curso progressivo mais rápido e perda de eficácia terapêutica”.

Os doentes com esclerose múltipla, apesar da sintomatologia neurodegenerativa, também apresentam comprometimento cognitivo, ansiedade e depressão, que têm impacto na progressão e patogénese da doença. Estudos efetuados em animais confirmam que a idade é um fator preditor de pior progressão da doença acompanhada de maior acumulação de défices de saúde medidos pelo índice de fragilidade.

Diversos estudos clínicos e pré-clínicos começam agora a desvendar a relevância da interação entre o microbioma intestinal e o sistema nervoso em doenças autoimunes, como a esclerose múltipla. No entanto, existem ainda muitas lacunas que a investigação agora premiada vai explorar, como a alteração do microbioma em função da idade e o seu impacto no surgimento e progressão dos sintomas.

Esta é a quarta bolsa que a Biocodex Microbiota Foundation (BMF) atribui para premiar a investigação portuguesa em particular. Internacionalmente, e nos últimos cinco anos já distinguiu projetos na área das doenças inflamatórias intestinais e o papel crucial da microbiota; microbiota nas doenças hepáticas; sobre a relação entre a microbiota alterada e a obesidade infantil; microbiota e cancro e o eixo intestino-cérebro. Entre prémios nacionais e internacionais foram atribuídas mais de 30 bolsas.

Além das bolsas, a BMF lançou, em 2021, o Prémio Henri Boulard, que reconhece iniciativas locais que contribuem para a melhoria da saúde da população, moldando assim o futuro da medicina. Entre os projetos galardoados incluem-se uma campanha de sensibilização para a contraceção na Nigéria para redução da mortalidade materna e do abuso de antibióticos e um programa de epidemiologia com base em águas residuais na Tailândia.