Milhões de crianças com menos de dois anos sem os alimentos de que precisam 949

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), revelou num relatório divulgado esta quarta-feira, que metade das crianças entre os seis meses e dois anos, de 91 países, não faz o número mínimo de refeições recomendadas por dia, enquanto dois terços não têm a dieta variada necessária para se desenvolverem adequadamente.

A UNICEF divulgou o documento na véspera da realização na ONU de uma Cimeira sobre Sistemas Alimentares, na qual esperam compromissos de muitos Governos para transformar o modo como se produz, processa e consome comida.

“A Cimeira sobre Sistemas Alimentares é uma oportunidade importante para preparar o cenário necessário para que os sistemas alimentares mundiais possam satisfazer as necessidades de todas as crianças”, explicou Henrietta Fore, a diretora da UNICEF, citada no documento.

O relatório alerta para que o aumento da pobreza, da desigualdade, dos conflitos, dos desastres relacionados com o clima e das emergências sanitárias esteja a contribuir para desencadear uma crise nutricional entre as gerações mais jovens “que deu poucos sinais de melhoria nos últimos dez anos”.

O documento sublinha que uma dieta pobre em nutrientes durante os primeiros dois anos de vida pode “danificar de forma irreversível o corpo e o cérebro das crianças em rápido crescimento, o que afeta a sua escolaridade, as suas perspetivas laborais e o seu futuro”.

A UNICEF indica ainda que, uma análise realizada em 50 desses 91 países estudados revelou que, devido à pandemia de covid-19, a percentagem de crianças que consomem o número mínimo de refeições recomendado caísse em um terço em 2020, comparado com 2018.

“As crianças ficam com as marcas de uma dieta pobre e de más práticas alimentares para o resto da vida. A ingestão insuficiente de nutrientes que se encontram em verduras, fruta, ovos, peixe e carne, que são necessários para sustentar o crescimento numa tenra idade, coloca as crianças em risco de desenvolvimento cerebral deficiente, dificuldades de aprendizagem, baixa imunidade, aumento de infeções e, potencialmente, morte”, alerta o documento divulgado.

Por isso, a agência da ONU propõe que seja incentivada a produção, a distribuição e venda de produtos ricos em nutrientes, para aumentar a sua disponibilidade e acessibilidade.

Propõe também a criação de normas e leis estatais “para proteger as crianças pequenas dos alimentos e bebidas processados e ultraprocessados que não são saudáveis e pôr fim às práticas comerciais nocivas dirigidas às crianças e às famílias”.

“Apesar desta análise muito preocupante, o progresso ainda pode ser feito com uma ação global conjunta para construir, fortalecer e transformar os sistemas alimentares”, permitindo “que as crianças possam obter a nutrição de que precisam para sobreviver e prosperar”, afirmou Jenny Vaughan, citada no relatório.