Melhoramento genético do trigo pode não ser causa de mais doentes celíacos 599

03 de Novembro de 2016

Um estudo que juntou investigadores portugueses e estrangeiros concluiu que, afinal, o melhoramento genético do trigo «pode não ser causa do aumento» da prevalência da doença celíaca e desenvolveu tecnologias de destoxificação do trigo que vão ser patenteadas.

Um grupo de investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, da Universidad Politécnica de Madrid (UPM), em Espanha, e do Institut National de la Recherche Agronomique (INRA), França, relevou hoje, em comunicado, que «há variedades de trigo modernas, fruto do melhoramento genético, com cerca de sete vezes menos toxicidade para os doentes celíacos que outras».

Estas conclusões resultam da tese de doutoramento do investigador José Miguel Ribeiro, orientada pelos docentes e investigadores da UTAD Gilberto Igrejas e Fernando Nunes e ainda Marta Rodriguez-Quijano, da Universidad Politécnica de Madrid.

«Os resultados da investigação indicam que, para além do potencial genético que o trigo encerra, as práticas de melhoramento desta cultura – que procuram desenvolver variedades de trigo com melhores índices de qualidade – não contribuem para o aumento da toxicidade destas variedades», explicou o investigador José Miguel Ribeiro, citado pela “Lusa”.

Desta forma, acrescentou, “cai por terra” uma das hipóteses que se pensava ter contribuído para o aumento da prevalência da doença celíaca na população humana, na qual se supunha que o «melhoramento do trigo era a causa do aumento da prevalência da doença».

As conclusões apontam para que «estas variedades podem não ter contribuído para a prevalência da doença celíaca, nos últimos 50 anos», afirmou, por sua vez, o docente e investigador da UTAD Gilberto Igrejas.

Uma segunda fase deste projeto procurou desenvolver novas tecnologias de destoxificação (retirar as substâncias potencialmente tóxicas de dentro do organismo)do glúten com vista à obtenção de produtos baseados no trigo não envolvendo organismos geneticamente modificados (OGM), potencialmente hipoalergénicos para os doentes celíacos.

Segundo explicaram os responsáveis, «através da quitosana, um ingrediente natural com características biocompatíveis e biodegradáveis, foi desenvolvida uma tecnologia com capacidade para reduzir a carga tóxica do glúten para os celíacos, sem prejuízo para a funcionalidade tecnológica dos produtos, permitindo a continuidade de transformação em pão, bolos, massas, pizzas, entre outros produtos alimentares».

Esta tecnologia tem um pedido de patente submetido e poderá, de acordo com o comunicado da UTAD, abrir caminho para o desenvolvimento de produtos baseados no trigo potencialmente hipoalergénicos para doentes celíacos.

O trigo é um dos principais cereais usados na alimentação do homem e representa uma importante fonte de proteínas e energia na dieta humana.

O glúten está presente em variados produtos alimentares, sendo que há pelo menos dez mil anos que se consome trigo e o glúten que este contém.

No entanto, para pessoas com doença celíaca, a exposição ao glúten pode desencadear uma reação imunitária ao nível do intestino que causa prejuízo na absorção dos nutrientes. A doença atinge praticamente 1% das populações em todas as sociedades ocidentais.

«Este trabalho de investigação toma assim uma importância social acrescida já que aporta uma nova esperança aos doentes celíacos no sentido de ultrapassarem uma das suas maiores limitações – viver com alimentos sem glúten – e permitindo-lhes um aumento da qualidade de vida e integração social», concluiu o investigador José Miguel Ribeiro.