Uma coluna da ONU entregou ontem (10) alimentos “urgentes” a cerca de 200.000 pessoas no centro e no sul da Faixa de Gaza, indicou o diretor da agência UNRWA, Philippe Lazzarini.
A coluna entrou no enclave palestiniano através da passagem fronteiriça sul de Kerem Shalom, assim retomando a entrega de ajuda humanitária através desta passagem depois de a ter interrompido nos últimos dez dias devido a saques e roubos ocorridos ao longo desta rota, disse Lazzarini.
Kerem Shalom foi um dos poucos postos fronteiriços que permaneceram abertos, com autorização israelita, quase desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023, para a entrada de ajuda humanitária, da qual a população da Faixa de Gaza depende para sobreviver.
O posto de passagem de Rafah, que liga diretamente ao Egito, está encerrado desde maio, quando as tropas israelitas invadiram aquela zona. Nos últimos meses, pressionado pela comunidade internacional, Israel abriu também alguns postos fronteiriços no norte.
“Precisamos de aumentar o nosso apoio ao povo de Gaza e precisamos de que todas as partes continuem a proporcionar um acesso humanitário seguro, sem obstáculos e ininterrupto para garantir que a ajuda chega àqueles que mais dela necessitam”, apelou Lazzarini, num comunicado, citado pela Lusa.
O responsável da UNRWA (Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente) sublinhou que “com vontade política, isto é possível”, tendo nos últimos dias aumentado o otimismo quanto a um acordo de cessar-fogo para Gaza, após meses de impasse nas negociações.
Ontem, uma fonte próxima das negociações, citada pela agência de notícias espanhola Efe, disse que o acordo poderá ser alcançado “dentro de uma ou duas semanas”, depois de o movimento islamita palestiniano Hamas – desde 2007 no poder na Faixa de Gaza – ter entregado ao Egito, no domingo, uma lista com nomes de possíveis reféns e também de prisioneiros palestinianos a serem trocados na primeira fase da trégua.
Uma delegação israelita também se reuniu hoje com responsáveis egípcios no Cairo, onde discutiram o assunto, segundo uma fonte próxima citada pela Efe.
Risco crescente de fome
No norte da Faixa de Gaza, o Ministério da Saúde alertou que cerca de 60 doentes feridos que se encontram internados no hospital indonésio correm o risco de morrer por falta de comida e água.
“A situação humanitária no hospital tornou-se extremamente perigosa, uma vez que os feridos carecem de bens de primeira necessidade, o que aumenta o seu sofrimento nas difíceis condições impostas pelas forças de ocupação”, refere o ministério num comunicado.
Em outubro, só 990 camiões de ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza, o número mais baixo em todo o ano de 2024, segundo dados da ONU, num contexto de risco crescente de fome no enclave palestiniano.
A Faixa de Gaza é cenário de conflito desde 07 de outubro de 2023, data em que Israel ali declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 96 dos quais continuam em cativeiro, 36 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 431.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 44.786 mortos (cerca de 2% da população), entre os quais mais de 17.000 menores, e 106.188 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de mais de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Uma comissão especial da ONU acusou há duas semanas Israel de genocídio na Faixa de Gaza e de estar a utilizar a fome como arma de guerra – acusação logo refutada pelo Governo israelita.