Mais Nutricionistas em Formação: Um Exército Sem Campo de Batalha 1030

Por Luísa Dias, Presidente da Direção da Associação Nacional de Estudantes de Nutrição

 

Nos últimos anos, a área Nutrição tem demonstrado um crescimento constante, atraindo um número cada vez maior de estudantes para as licenciaturas em Dietética e Nutrição e em Ciências da Nutrição. Em Portugal, este cenário reflete-se na existência de 15 instituições de Ensino Superior que oferecem formação na área, bem como na criação de novos cursos. Contudo, esta expansão pode trazer desafios significativos que não devemos ignorar.

Um dos maiores desafios prende-se com o acesso à profissão, num mercado de trabalho que não consegue absorver todos os recém-licenciados. O problema agrava-se à medida que o número de estudantes e diplomados cresce a um ritmo superior ao da criação de oportunidades profissionais, e, como consequência, muitos jovens qualificados veem-se sem perspetivas, frustrados pelo desperdício das competências adquiridas ao longo da sua formação. Assim, perpetua-se um ciclo de insatisfação e estagnação, onde talento e formação acabam subaproveitados.

A formação de nutricionistas sem garantir empregabilidade ou uma transição sustentável para o mercado de trabalho acaba por enfraquecer a profissão. A dificuldade de acesso à carreira pode conduzir ao aumento da prática não regulada, ao descontentamento dos jovens e, frequentemente, à emigração em busca de melhores condições.

A reversão deste ciclo de insatisfação e estagnação só será possível através de uma visão estratégica e da implementação de medidas concretas. É fundamental um esforço conjunto das instituições de ensino, das entidades reguladoras e dos empregadores. Por um lado, é essencial garantir um equilíbrio realista entre o número de estudantes e as oportunidades disponíveis no mercado. Por outro lado, torna-se imprescindível continuar a valorizar e a integrar os nutricionistas em novas áreas de atuação, explorando setores onde sabemos que a sua intervenção tem um impacto positivo. O futuro da profissão depende da criação de soluções sustentáveis para os nutricionistas de hoje e de amanhã.