Lítio: A influência na saúde humana 2535

O lítio (Li) do grego lithos, é o metal alcalino mais leve disseminado na crosta terrestre e frequentemente encontrado em rochas sedimentares.

Este elemento químico é fundamental na transição para sistemas de energias renováveis e sustentáveis. Devido à alta densidade energética que lhe é característica, uma das suas principais utilizações são as baterias de iões de lítio, indispensáveis na produção de dispositivos eletrónicos e veículos elétricos. Esta utilização está alinhada com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em particular com os que preconizam uma maior eficácia energética de forma a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

Considerando que a vida útil das baterias de iões Li é limitada, o interesse pela mineralização deste elemento químico tem aumentado a nível nacional e internacional, principalmente por Portugal ser o país europeu com maiores recursos litiníferos. A importância económica, o elevado risco de escassez e o fato de ser um metal fundamental para a eletromobilidade, impeliu a integração do Li na lista das trinta matérias-primas essenciais reconhecidas pela União Europeia, desde 2020.

Não sendo considerado um elemento essencial para a saúde humana, o Li desempenha, desde há muito, um papel primordial no tratamento de várias patologias do foro psiquiátrico, nomeadamente a doença bipolar. Nas últimas décadas, o seu efeito terapêutico tem vindo a ser demonstrado também em patologias neurodegenerativas. Em doses baixas, este elemento pode ter um efeito nutritivo a nível cerebral, uma vez que é importante para o transporte e absorção de nutrientes como a vitamina B12 e folatos. A carência de Li pode originar alterações na saúde mental.

Por outro lado, apesar deste metal não ser considerado um elemento tóxico, a exposição a teores excessivos, pode provocar efeitos adversos no Ser Humano, o que tem instigado a investigação científica sobre os efeitos da sua toxicidade. O Li é facilmente absorvido pelo trato intestinal e excretado através da urina com uma semivida de 1 a 4 dias. Apesar de não existir legislação específica, a literatura científica reporta uma ingestão média de Li através da dieta de 0,24 a 1,5 μg/kg-dia, valores inferiores às doses terapêuticas ou potencialmente tóxicas.

A acumulação de Li em solos e águas, conduz à ocorrência deste metal na cadeia alimentar. Os valores disponíveis nos solos, são influenciados pela composição de minerais e pelas características dos mesmos, bem como pela influência geográfica. Sendo a ingestão considerada uma das principais vias de exposição ao Li, é importante avaliar a exposição das populações, sobretudo em áreas geográficas próximas de concessões mineiras com recursos litiníferos, esta monitorização é essencial para manter o bem-estar no contexto da abordagem One Health, a qual reconhece a interdependência da saúde humana, animal e ambiental numa imprescindível tríade.

De forma a estimar a exposição de populações residentes em áreas geográficas abundantes em recursos litiníferos, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, através do seu Departamento de Alimentação e Nutrição em cooperação com o Instituto Superior Técnico desenvolveu um estudo pioneiro em Portugal, intitulado “Lítio na alimentação: O impacto das explorações mineiras de lítio” (projeto ILiFOOD).

Esta investigação, que decorreu entre 2022 e 2023, possibilitou a caracterização do panorama nacional em 3 explorações mineiras, localizadas nos distritos da Guarda e de Vila Real, através da análise de alimentos, águas e solos. Os dados obtidos neste estudo, permitiram adquirir conhecimento sobre os teores de Li em alimentos, águas e solos, provenientes de áreas geográficas relevantes. Foram estabelecidos valores de referência para as áreas em estudo, essenciais para a análise do impacto de futuras explorações de Li na exposição e avaliação do potencial risco das populações circundantes.

 

Marta Ventura
Laboratório de Materiais de Referência, Departamento de Alimentação e Nutrição, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge