Literacia Alimentar em Portugal 4516

Sendo Portugal um país com uma não muito elevada literacia em saúde e, apesar de não existirem dados em literacia alimentar no nosso país, pensamos que estariam de acordo com os valores que atualmente possuímos para a literacia em saúde, isto porque entre muitos outros dados, segundo o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física, mais de metade dos cidadãos portugueses não cumpre a recomendação da Organização Mundial de Saúde na ingestão de 400 g/dia de hortofrutícolas, consome ácidos gordos saturados acima do recomendado (>10% do Valor Energético Total) e apresentam um consumo de sal muito elevado.

No Plano Europeu de Ação Alimentar e Nutrição 2015-2020 da Organização Mundial de Saúde é realçado que os maus hábitos alimentares são responsáveis por doenças não transmissíveis, como por exemplo, a obesidade e o aumento da sua prevalência, sendo que é considerada como uma epidemia por parte da mesma Organização. O Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física revela ainda que a prevalência de pré-obesidade é de 34,8% e de obesidade é de 22%. É importante realçar ainda que os hábitos alimentares inadequados são um dos principais determinantes da perda de anos de vida saudável em Portugal.

A urgência em reduzir as prevalências e prevenir o aparecimento desta doença, bem como de outras como a diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro, realça a importância de promoção de literacia alimentar da população para a realização de melhores escolhas alimentares, uma maior compreensão dos alimentos e da sua distribuição da melhor forma ao longo do dia, a implementação de partilha de conhecimento em segurança alimentar e nutrição e a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis.

Este reconhecimento da literacia alimentar como medida preventiva já surgiu em Portugal com a criação do Plano Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável e a Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável. Estas iniciativas levaram à elaboração de documentos que incluem recomendações sobre a ingestão das quantidades médias de alimentos, assim como uma atenção para a informação presente nos rótulos dos produtos alimentares à venda no mercado.

Particularmente e mais recentemente, a campanha “Comer melhor, uma receita para a vida”, da Direção-Geral da Saúde, que tem como principais objetivos sensibilizar para a importância das pequenas mudanças na alimentação como ganhos em saúde, aumentar a motivação para estas mudanças e aumentar as competências dos portugueses, pode ser um marco importante pelos três eixos que apresenta, ainda que consideremos que poderia ter uma duração. Assim sendo, achamos que é necessário que todas as entidades continuem o trabalho e que o inovem para que se aumente a literacia alimentar em Portugal.

Beatriz Correia e Humberto Fernandes
Direção da Associação Nacional de Estudantes de Nutrição