Legislativas 2025: Nutricionista César Valente é o cabeça de lista do Volt por Bragança 1271

As Eleições Legislativas de 18 de maio destacam-se pela presença de alguns nutricionistas nas listas dos vários partidos. César Valente é mesmo o cabeça de lista do Volt pelo distrito de Bragança.

Com 49 anos, reside na Maia e trabalha na ULS de São João, no Porto, depois de um longo percurso profissional que o levou a Coimbra e à região que hoje quer representar. Foi nomeado coordenador de vários projetos, admite-se apaixonado pelos cuidados de saúde primários e garante que a intervenção do nutricionista é muito valiosa.

Em entrevista à VIVER SAUDÁVEL, o candidato faz uma radiografia do país, da Saúde e da Nutrição, ao deixar uma mensagem aos colegas: “Nunca se ‘vendam’ nem façam aquilo que só vai desacreditar a profissão”

VIVER SAUDÁVEL (VS) – Porque decidiu apresentar-se a eleições pelo Volt?

César Valente (CV) – Estive muito tempo afastado do associativismo e da política, pois deixei de acreditar nela. Sentia que o objetivo era captar eleitores para as próximas eleições e não existia uma verdadeira preocupação com os cidadãos e cidadãs dos respetivos círculos eleitorais.

Encontrei no Volt quase tudo aquilo que defendia e acreditava: Cuidar o melhor possível dos cidadãos e cidadãs, sem esquecer que a economia tem que funcionar, ou depois não há recursos para melhorar a vida das pessoas; Integrar Portugal na Europa de forma a aproximar a nossa qualidade de vida de todos os europeus; Formar algo como os Estados Unidos da Europa ou a Federação Europeia; Uma preocupação com o ambiente, a sustentabilidade e as alterações climáticas (mobilidade verde, entre outros);

Uma saúde preventiva, quer na alimentação – equilibrada, saudável e sustentável – quer na saúde mental, sendo a melhor forma de se atingir a saúde do corpo e da mente, junto com o exercício físico, razão pela qual o pois o Volt quer criar uma alternativa segura (ecopistas) para a utilização da bicicleta e um caminhar interligado com transportes públicos de excelência.

“Infelizmente, a Saúde precisa de grandes mudanças!”

Isto tudo realizado pela evidência científica e observável e não em ideologias que muitas vezes implicam realizar algo que não é otimizado, eficaz e eficiente para aquele momento.

VS – É hoje candidato a um lugar na Casa da Democracia. Que temas vão marcar a sua campanha?

CV – Os temas que vão marcar a minha campanha no distrito de Bragança – sendo a primeira vez que o Volt concorre a este círculo eleitoral – centram-se em três coisas:

  • 1. Avaliar o estado da Saúde, no geral, tentando perceber como se adaptaram ao modelo ULS. Promover recursos humanos e materiais suficientes e, com o existente, promover a eficácia e a eficiência, tendo em conta a equidade entre todos (algo que já sentia no período em que estive no distrito a trabalhar);
  • 2. Preocupar-me com transportes públicos ajustados às necessidades da população, quer das aldeias para as sedes de concelho, quer destas para o Porto, onde muitas pessoas têm que ir a consultas, entre outras situações. Promover que esta mobilidade tenha o mínimo impacto ambiental, tendo como prioridade uma ferrovia rápida e eficiente, para conseguirem fazer deslocações em tempos viáveis e com o mínimo impacto ambiental! A mobilidade também teria grande impacto no acesso à saúde em tempo útil;
  • 3. Ponho este como o mais importante de todos: a maior interação possível com os cidadãos e cidadãs do distrito de Bragança, de forma a perceber quais são as suas reais necessidades, pois não se pode partir da presunção, que eu sei o que estas gentes precisam! Só ouvindo as pessoas – dando-lhe essa oportunidade e estando atento ao que priorizam e às sugestões que são dadas – podemos realmente defender o círculo eleitoral que representamos na Casa da Democracia.

VS – Como olha para o estado do país, em particular para o estado da Saúde?

CV – Infelizmente, a Saúde precisa de grandes mudanças! Não sendo apenas a saúde, mas grande parte dos serviços básicos, como a educação.

“Houve uma diminuição do reconhecimento e noção da utilidade do nutricionista”

Na Saúde, penso que deve ser dada a oportunidade de se criarem verdadeiras equipas multidisciplinares para tornar as intervenções o mais eficazes e eficientes possíveis, de forma a reduzir a morbilidade e mortalidade da população. Por exemplo – não minorando as outras profissões – haver nutricionistas e psicólogos em número suficiente na Saúde, além dos ganhos em saúde e bem-estar na população.

Os valores em medicamentos, meios complementares de diagnóstico, consultas e dias de internamento iriam ser todos reduzidos de forma substancial. Com a pretensão do Volt em lutar pelos Estados Unidos da Europa, penso que tudo poderia melhorar, pois com os aumentos dos vencimentos teríamos também profissionais e cidadãos muito mais motivados.

VS – E como olha para o estado da sua profissão?

CV – A profissão de Nutricionista, felizmente, evoluiu bastante desde a data da minha licenciatura, mas ainda tem um grande percurso a percorrer! Posso estar a analisar mal a situação, mas parece que houve uma diminuição do reconhecimento e noção da utilidade do nutricionista, aquando das mudanças de organização da saúde.

Como disse anteriormente, é urgente haver profissionais suficientes integrados em verdadeiras equipas multidisciplinares, em que todos tenham o seu papel na sua área de conhecimento, sem atropelos e sem relativizar a importância de qualquer profissão Todos são importantes. Também há muitos preconceitos a quebrar!

VS – A Nutrição, enquanto profissão jovem no nosso país, entrou na Assembleia da República em 2024 com Ana Gabriela Cabilhas. Os nutricionistas têm conseguido impor-se na sociedade ou ainda existe um longo caminho para o reconhecimento da profissão? De que forma um nutricionista pode acrescentar um saber diferente ao Parlamento?

CV – A Nutrição tem mesmo que chegar ao parlamento! É de extrema importância, para se fazer ouvir na Casa da Democracia! Infelizmente, é necessário demonstrar a nossa importância diretamente, propondo na Assembleia da República mudanças importantes e urgentes para o reconhecimento da profissão, quer como área do saber, quer para o impacto que pode ter na saúde da população ou na eficiência e eficácia, reduzindo gastos.

Por isso já referi que tinha a perceção de ter havido uma regressão no reconhecimento da profissão. Parece que se tem que fazer tudo outra vez! Vou dar um exemplo pessoal: quando cheguei ao distrito de Bragança, não era só a população que não sabia o que era o nutricionista, eram também os profissionais de saúde. Vou dizer dois nomes pelos quais era “chamado” pela população: “contorcionista” e “Médico emagrecista”.

“A Nutrição tem qualidade para se impor nas suas diferentes áreas!”

Felizmente, quando saí do distrito, em 2010, já sabiam o que era o Nutricionista e o que ele podia fazer para ajudar! Por vezes sinto que se vai ter que travar outra vez uma batalha semelhante, o que me entristece.

VS – Porque escolheu a Nutrição como área de formação?

CV – Há erros que vêm por bem! Não fui eu que escolhi, mas a Nutrição que me escolheu a mim! Entrei no curso de Nutrição por um erro que cometi no documento que se preenchia para o ingresso na faculdade. Depois, apaixonei-me pela Nutrição, acrescentei-lhe conhecimento na área da psicologia e faço aquilo que gosto, nem sempre com as prioridades que desejaria, mas adaptado há insuficiência de profissionais no SNS.

VS – Como descreve o seu percurso profissional?

CV – Penso que consegui ter um percurso profissional muito rico! Foi muito trabalhoso, no início, para criar a minha necessidade. Com isso, consegui a experiência para entrar num concurso público e tive a oportunidade de trabalhar em várias áreas e locais bem diferentes!

No Centro de Alcoologia, lidei com uma patologia muito específica que contrariava muitas vezes os conhecimentos Nutricionais de uma forma quase inacreditável, juntamente com um ambiente hospitalar, onde pude ter contacto com a Nutrição Clínica, a área complementar e a gestão de refeições no internamento. Havia também a formação de outros profissionais e alguma intervenção comunitária a pedido dos grupos de alcoólicos tratados.

Ao mesmo tempo, tive a oportunidade de trabalhar na área do ensino na Escola de Hotelaria de Coimbra. Após esta fase, tive a oportunidade de criar um Serviço de Nutrição nos cuidados de saúde primários e praticar a Nutrição como penso que se deve, junto de uma população bastante rural e do Interior. Depois desta experiência, tive a oportunidade de trabalhar nos cuidados de saúde primários, na cidade do Porto, num meio extremamente urbano.

VS – Que mensagem quer deixar aos colegas nutricionistas?

CV – Nunca desistir, pois a Nutrição tem qualidade para se impor nas suas diferentes áreas! Nunca se “vendam” nem façam aquilo que só vai desacreditar a profissão: a imposição de produtos lesivos aos cidadãos e cidadãs e nos quais não acreditam. Não se menosprezem, não aceitem trabalho muito mal remunerado, só vai decrescer a valorização da profissão! Compreendo que há contas para pagar, mas mais vale trabalhar fora da área pelo mesmo valor, por vezes até por mais.

Tenham em conta que o último artigo publicado é apenas isso mesmo. Não o assumam como verdade absoluta, apenas porque é mais recente. É preciso incluir esse artigo em todo o nosso conhecimento e tirar as nossas conclusões baseadas em factos, mas mantendo sempre a mente aberta aos nossos conhecimentos, mesmo que disruptivos com o conhecimento do momento. Viva a Nutrição!