A alimentação desempenha um papel determinante na saúde, incluindo na saúde digestiva. O leite e os lácteos, por sua vez, apresentam um extraordinário valor nutricional e um efeito potencialmente benéfico na saúde. Além disso, contêm componentes bioativos que podem ter um papel promotor da saúde digestiva.
São uma excelente fonte de cálcio, que contribui para o normal funcionamento de várias enzimas digestivas, como por exemplo as lípases (1), bem como de cloreto, um mineral que contribui para a digestão através da produção de ácido clorídrico no estômago (2).
Alguns péptidos bioativos provenientes de proteínas lácteas demonstram efeitos benéficos na saúde digestiva devido às suas propriedades antimicrobianas (3). Estas substâncias consistem em pequenas sequências de aminoácidos, que estão encriptadas nas proteínas do leite e que podem ser libertadas quer através da fermentação do leite por bactérias ácido-lácticas (como acontece por exemplo no iogurte e no leite fermentado), quer através da hidrólise enzimática que ocorre na normal digestão gastrointestinal dos lácteos.
Efeitos positivos no microbiota intestinal têm impacto não só na saúde digestiva, mas na saúde em geral.
O microbiota intestinal mantém uma relação simbiótica com a mucosa intestinal e desempenha funções metabólicas, imunológicas e de proteção do intestino (4). Participa no metabolismo e absorção de nutrientes, como por exemplo fermentação de hidratos de carbono e digestão de oligossacarídeos não digeríveis, síntese de ácidos gordos de cadeia curta, síntese de vitamina K, biotransformação de compostos bioativos como os polifenóis, metaboliza fármacos e xenobióticos, tem função imunomoduladora, antimicrobiana e de manutenção da estrutura e função do trato gastrointestinal (4). Mas a sua ação vai muito além do intestino, o microbiota influencia uma multiplicidade de aspetos metabólicos, desde a imunidade do hospedeiro, o apetite, o metabolismo energético e até aspetos neurocomportamentais (5).
As proteínas lácteas são fonte de outras substâncias bioativas que podem ter um impacto positivo na saúde digestiva. Por exemplo os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), que estão presentes em quantidades particularmente elevadas nas proteínas lácteas, podem ter impacto positivo no microbiota intestinal (6). Também os exossomas isolados a partir do leite ou de proteínas lácteas parecem ser outro fator de interação funcional; trata-se de um subtipo de minúsculas vesículas extracelulares que contêm ácidos nucleicos, proteínas, lípidos e metabolitos celulares, que podem ter capacidade de alterar positivamente o microbiota intestinal (7).
Os lácteos fermentados parecem ter um efeito de modulação do microbiota intestinal, que por sua vez pode influenciar os substratos sujeitos a digestão ao nível gastrointestinal, assim como os seus produtos finais e potencial bioatividade (7, 8, 9). Além disso, os produtos lácteos são o veículo alimentar natural de probióticos– microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, proporcionam benefícios para a saúde de quem os consome – de que são exemplo vários microrganismos dos géneros Lactobacillus e Bifidobacterium (10).
A fibra, presente no leite e lácteos enriquecidos, é digerida pelomicrobiota intestinal, influenciando positivamente a sua composição (5,11). Os lácteos enriquecidos em fibra constituem uma boa estratégia para o aumento do consumo deste nutriente. Isto é especialmente importante sabendo que 76% da população portuguesa não ingere fibra suficiente (12), ou seja pelo menos 25g/dia (11).
Por outro lado, a intolerância à lactose interfere negativamente no bem-estar digestivo. Ocorre quando o organismo não produz lactase suficiente, uma enzima que tem como função dividir a lactose nos seus componentes mais simples, permitindo a sua absorção para a corrente sanguínea. Quando esta deficiência se verifica, a lactose permanece intacta no intestino, causando sintomas digestivos, tais como desconforto abdominal, dor, diarreia, náuseas, flatulência e/ou inchaço abdominal. Os sintomas da intolerância à lactose podem ser controlados de forma simples, através da adoção de uma dieta sem lactose ou com um teor reduzido de lactose (13). O leite e os lácteos sem lactose ou com teor de lactose reduzido permitem que as pessoas intolerantes à lactose possam continuar a beneficiar da riqueza nutricional dos lácteos com todo o bem-estar digestivo.
*Conteúdo patrocinado pelo CNAM