06 de junho de 2017 Um estudo que envolveu centenas de adolescentes portugueses detetou uma elevada ingestão de bebidas energéticas, isolada ou associada ao álcool, apesar de este consumo não ser recomendado para esta idade devido aos seus potenciais efeitos adversos. Publicado na edição de abril/junho da Ata Pediátrica Portuguesa, a revista oficial da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), o estudo “Bebidas energéticas: Qual a realidade na adolescência?” foi elaborado por pediatras do Hospital da Senhora da Oliveira (Guimarães) e do Centro Hospitalar São João (Porto). Com base em respostas de 704 adolescentes, com idades compreendidas entre os 14 e os 19 anos, o estudo apurou que 76% dos adolescentes já tinham experimentado bebidas energéticas, tendo a primeira ingestão ocorrido entre os 12 e os 15 anos em 85% dos casos. Estas bebidas pertencem a um grupo de bebidas não alcoólicas com um elevado teor de cafeína e às quais são adicionadas outras substâncias, nomeadamente hidratos de carbono (glucoronolactona, dextrose, sacarose), aminoácidos (taurina), vitaminas (B riboflavina, piridoxina, L-carnitina) e extratos de plantas (ginseng, guaraná). Entre os vários efeitos adversos destas bebidas estão a taquicardia, agitação, cefaleia, insónia, desidratação, tonturas, ansiedade, irritabilidade, tremores, aumento da tensão arterial e distúrbios gastrointestinais. Com o aumento da dose os sintomas podem ter maior gravidade: convulsões, hemorragias, arritmias ou alucinações, «podendo mesmo levar à morte», lê-se no artigo que cita vários artigos científicos já publicados sobre esta matéria. A crescente popularidade destas bebidas entre os adolescentes levou mesmo algumas organizações, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) a alertar para os seus efeitos prejudiciais e a recomendar que estas não sejam consumidas por crianças e adolescentes. Em Portugal, existem poucos estudos relativos a esta temática que evidenciem a verdadeira realidade do consumo de bebidas energéticas na população dos adolescentes, pelo que este trabalho pretende caraterizar o seu padrão de consumo. As respostas obtidas neste inquérito permitiram apurar que a maioria (63%) dos adolescentes inquiridos ingeriu pelo menos uma bebida energética no último ano. A maioria dos consumidores (74%) ingeriu este tipo de bebidas durante as noites de fim de semana e o seu consumo foi mais elevado no género masculino. A obtenção de mais energia (44%) e de diversão por toda a noite (34%) foram os principais objetivos mencionados para o consumo de bebidas energéticas, os quais mudam consoante o género. Os rapazes pretendem obter mais energia e melhorar o desempenho físico e às raparigas move-lhes a curiosidade. A maioria (53%) não referiu qualquer efeito após o consumo de bebidas energéticas e, dos que referiram efeitos, os mais frequentes foram a obtenção de mais energia (21%) e o aumento da concentração (9%) no género masculino e a sensação de alegria (11%) no género feminino. Nenhum adolescente teve necessidade de recorrer a cuidados médicos. Em 59% dos consumidores foi observado o consumo associado de bebidas energéticas com álcool. A maioria (85%) associou esta bebida a vodka. «Os objetivos predominantes para este tipo de consumo foram melhorar o sabor das bebidas alcoólicas (76%) e prolongar a diversão (37%), não se tendo verificado diferenças entre os géneros em nenhum dos objetivos», lê-se no artigo. Em relação ao consumo de outras substâncias (tabaco, álcool ou drogas ilícitas), «22% da amostra estudada apresentavam hábitos tabágicos, 19% mencionaram já ter experimentado drogas ilícitas e 57% referiram o consumo de álcool no último mês». Por outro lado, prosseguem, «a falta de regulamentação relativamente à comercialização das bebidas energéticas torna-as de fácil acesso, sem restrições legais à sua venda, como observado neste estudo, em que a maioria dos consumidores referiu já ter alguma vez comprado uma bebida energética». Perante «a elevada ingestão de bebidas energéticas detetada nos adolescentes deste estudo», os autores consideram essencial «aumentar a consciencialização das crianças, adolescentes, encarregados de educação, professores e sociedade no geral para este tipo de consumo e os seus riscos». |