Jovens e o Afastamento Político 2291

É notório o desinteresse dos mais recentes cidadãos recenseados na prática das modalidades mais tradicionais da participação política. Tal é verificável nos dados relativos à taxa de abstenção das últimas Eleições Legislativas e Europeias que contaram com, respetivamente, 51,43% e 69,27% da população que se absteve do seu voto à urna. Os jovens são aqueles que mais contribuem com uma participação eleitoral diminuta, sendo cada vez mais evidente o seu profundo desinteresse, preguiça e descrença pelo sistema político.

O envolvimento político, a exposição, a informação cívica e política, a participação em associações são cenários aos quais a juventude Portuguesa pouco ou nada se envolve. Contudo, não consideramos que se trate de uma apatia política, mas sim de um descontentamento face à representação política incompleta e defeituosa.

As causas para o desinteresse são diversas. Por um lado, a democracia bem consolidada transpõe-se numa ausência de grandes batalhas políticas ou ideológicas. O país vive há décadas em paz, com total liberdade de expressão, sem conflitos sociais e muito condicionado pelas orientações ditadas por Bruxelas. Por outro lado, a instalação de um poder político em que dois partidos políticos em tudo semelhantes se revezam no governo, pode conduzir a uma descrença e desmotivação para mudar o panorama. Adicionalmente, as forças políticas raramente têm um discurso direcionado aos jovens, às suas aspirações e interesses.

Não menos importante, a mais recente eleição para os Órgãos Nacionais da Ordem dos Nutricionistas, deparou-se com o mesmo panorama de uma elevada taxa de abstenção, 47,9%. E a mesma questão se levanta: será indiferença, descrédito, displicência? Não cremos que nenhuma das situações seja plausível para o não contributo eleitoral dos diferentes Órgãos, uma vez que, são estes os responsáveis por representar o Nutricionista enquanto profissional de saúde e por levar avante políticas estruturadas, integradas e sustentadas que visam orientar as principais prioridades em saúde em território Português.

Num período em que o papel do Nutricionista nunca foi tão importante e indispensável, e em que se expectam mudanças e a valorização da profissão, torna-se imperativo alertar a classe profissional para a importância do ato de votar. O aparecimento de uma lista concorrente foi um marco. A possibilidade de alternativa poderia ter auxiliado a decisão do voto, na medida em que permitiria a identificação pessoal com uma das listas. No entanto, tal não aconteceu mantendo-se o desinteresse dos associados pelas eleições e, em consequência, pelo rumo e orientação que a Ordem deve tomar na defesa dos seus associados e futuro da profissão.

É inegável a necessidade da consciencialização para a importância da afirmação eleitoral bem como a emergência de uma ascendente cooperação na estruturação de uma instituição credível, independente, pró-ativa, visionária que trabalha em prol do crescimento consistente da profissão.

Mariana Mota e Marta Maganinho
ANEN (Associação Nacional de Estudantes de Nutrição)