30 de janeiro de 2017 Um grupo de investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde alertou hoje para a necessidade de pacientes com gastrite severa serem vigiados de 3 em 3 anos, para prevenir a evolução para cancros gástricos. A recomendação já tinha sido feita por sociedades científicas nacionais e internacionais, mas «faltava informação relativamente aos custos que a aplicação desta medida acarretaria para os Sistemas de Saúde», afirmou o investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis) e clínico no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra, Miguel Areia. Agora, sublinhou, já é possível avançar que o custo associado desta política de saúde pública é de «pouco mais de 18 mil euros por ano de vida salvo», sendo assim «considerado comportável» pelo Sistema Nacional de Saúde. «O cancro gástrico representa um problema de saúde a nível global. As elevadas taxas de incidência e de mortalidade desta patologia fazem dela o quinto tumor mais comum e a terceira causa de morte por cancro», referiu Miguel Areias, citado pela “Lusa”. Em Portugal, este tipo de cancro é especialmente prevalente na zona Norte do país, afetando 13 por cada 100 mil habitantes, um nível considerado muito acima dos padrões europeus. De acordo com Miguel Areias, há fatores ambientais que contribuem para esta realidade, nomeadamente o consumo excessivo de sal, de fumados e os hábitos tabágicos. Há ainda uma componente genética que não deve ser esquecida. Acresce que 80% dos portugueses estão infetados pelo helicobacter pylori – uma bactéria que se instala no estômago podendo, com o decorrer dos anos, facilitar o aparecimento de doenças do foro digestivo. A bactéria existe em níveis elevados entre a população do Norte de Portugal, logo aos 20 anos de idade, esclarece o gastrenterologista, que sublinha que é mais tarde, sobretudo depois dos 50 anos, que os sintomas gástricos se manifestam. Mário Dinis-Ribeiro, líder do grupo de investigação em cancro do estômago do Cintesis e médico no IPO do Porto, referiu também que «a maioria dos casos está relacionada com infeção por helicobacter pylori e outros agentes ambientais e, portanto, a incidência aumenta com a idade». Segundo adiantou, «devido ao envelhecimento das populações, nomeadamente em Portugal, estima-se que a incidência e a mortalidade associadas a cancro gástrico aumentem nos próximos 20 anos». De acordo com os investigadores, o cancro do estômago pode ocorrer após vários anos de progressão de uma condição benigna como a gastrite. A endoscopia é o primeiro exame a ser efetuado para o diagnóstico destas condições pré-malignas que devem ser avaliadas e graduadas, sendo que só as mais severas têm necessidade de ser seguidas. Defendem, por isso, que «os médicos devem ser ensinados a fazer esta triagem de forma eficiente para se garantir que os doentes em maior risco são, efetivamente, vigiados de mais perto». A endoscopia digestiva alta é «o procedimento de eleição para diagnosticar as doenças do sistema digestivo que envolvem o esófago, o estômago e o duodeno. É um método disponível na maioria das instituições de saúde, preciso e relativamente pouco invasivo, mas os seus custos de utilização impedem que seja adotado como ferramenta de triagem para o cancro gástrico na maioria dos cenários clínicos». Além de Miguel Areia e Mário Dinis-Ribeiro, o trabalho contou com a colaboração de Francisco Rocha Gonçalves, investigador do Cintesis e membro do IPO do Porto. |