04 de junho de 2018 Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) estão a participar num estudo europeu, financiado em dez milhões de euros, para identificar a obesidade infantil na Europa e testar as melhores abordagens para a sua prevenção. «Se a atual onda de obesidade infantil não for interrompida, até 2025 mais de um em cada três adultos será obeso em alguns países europeus», indicou o ISPUP, em comunicado. Esta previsão resulta de dados obtidos nas últimas décadas, sendo importante «modificar essa tendência, que pode levar a uma situação paradoxal: pela primeira vez, praticamente ao fim de um século, a esperança de vida da geração dos filhos pode ser inferior à dos pais», disse à agência “Lusa” o investigador do ISPUP Henrique Barros. Através do projeto STOP (Science and Technology in childhood Obesity Policy), iniciado na sexta-feira, os investigadores vão procurar avaliar a obesidade em várias idades da vida, em cerca de 40 mil indivíduos, com atenção particular a crianças até aos 12 anos, adiantou. «Isso inclui melhorar a compreensão de como o ambiente em que se vive molda o comportamento das crianças e as escolhas dos pais, desde antes do nascimento», de forma a verificar «os primeiros sinais de mudanças biológicas que podem levar à obesidade», segundo a nota do ISPUP. Este estudo «tem uma importante contribuição das coortes [grupo de pessoas que possuem características em comum] do Porto – Geração 21 e Epiteen – nas quais seguimos crianças e adolescentes desde há cerca de 15 anos. No entanto, projetam-se dados para além dessas idades, com o contributo de amostras obtidas em mais seis países europeus», indicou Henrique Barros. O projeto, que tem a duração de quatro anos e é coordenado pelo Imperial College Business School, de Londres (Reino Unido), visa também tornar «a indústria de alimentos e outros atores comerciais responsáveis pelo que as crianças consomem», estimulando-os «a produzir soluções inovadoras para tornar o consumo infantil mais saudável», avançou o ISPUP. Entre outras políticas, avaliará a possibilidade de os governos europeus usarem alavancas – como impostos, rótulos nutricionais e restrições de comercialização de alimentos e bebidas – para combater a obesidade infantil. De acordo com o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF 2015-2016), promovido pela Universidade do Porto, em indivíduos entre os 3 meses e os 84 anos, a prevalência nacional de pré-obesidade é de 34,8% e de obesidade de 22,3%. «Isso significa que seis em cada dez portugueses (60% da população) são pré-obesos ou obesos», havendo um «aumento gradual da obesidade ao longo da idade», notou Henrique Barros. Segundo o responsável, «a realidade é já alarmante na população infantil», estimando-se que 25% das crianças com menos de 10 anos e 32,3% dos adolescentes (entre os 10 e os 17 anos) possuam critérios de obesidade ou pré-obesidade, «o que reforça a necessidade de estratégias de prevenção primária de obesidade, em fases precoces da vida». Em 2016, acrescentou, «a obesidade posicionava-se como o 6.º fator de risco para mortalidade total e o 4º fator responsável por mais anos totais de vida saudável perdidos (11,5%) em Portugal, precedido apenas pelos hábitos alimentares inadequados (15,8%), a hipertensão arterial (13%) e o tabagismo (12,2%)». Para o investigador, a elevada prevalência de obesidade e pré-obesidade em Portugal, o aumento do número de novos casos, bem como a sua elevada ocorrência, desde idades muito precoces, «colocam a obesidade como um dos principais problemas de saúde pública» do país. Iniciado na sexta-feira e contando com a participação de 31 organizações de pesquisa e governamentais de 16 países europeus, este é «o maior projeto de pesquisa na Europa para combater a obesidade infantil», sendo a segunda «grande iniciativa financiada pela União Europeia lançada este ano», no âmbito do programa Horizonte 2020, acrescenta a nota informativa. |