Investigadores da Universidade do Algarve (UAlg) descobriram uma proteína “crucial” no desenvolvimento de duas doenças neurodegenerativas para as quais não existe, atualmente, qualquer terapia que possa atrasar ou parar a sua progressão, anunciou esta quarta-feira esta instituição de ensino.
“Esta revelação reveste-se de especial importância se pensarmos que, embora ainda estejamos longe do impacto na vida dos doentes, o objetivo é claro: criar inovação e soluções para problemas reais e, em particular, para duas doenças que, sendo raras, afetam milhões de pessoas em todo o mundo”, disse o responsável pelo projeto, Clévio Nóbrega, citado num comunicado da universidade a que a Lusa teve acesso.
O investigador do Algarve Biomedical Center Research Instituite da UAlg publicou na revista científica Brain um artigo em que dá a conhecer “uma investigação pioneira” que identifica uma nova proteína como alvo terapêutico para duas doenças neurodegenerativas raras e incuráveis: a ataxia espinocerebelosa tipo 2 e a ataxia espinocerebelosa tipo 3 (também conhecida como doença de Machado-Joseph).
“O nosso objetivo está bem traçado: ajudar através da investigação a desenvolver uma terapia que possa atrasar ou parar a progressão da doença”, acrescentou Clévio Nóbrega. De acordo com a Universidade do Algarve, esta investigação é resultado de um estudo desenvolvido em contexto pré-clínico ao longo dos últimos seis anos e “identifica a proteína G3BP1 como crucial para a resposta das células e dos neurónios ao ‘stress’ molecular”.
Servindo-se de modelos celulares e animais, a equipa de investigação “conseguiu comprovar que a diminuição desta proteína contribui para a progressão das referidas doenças e que, quando foram restabelecidos os níveis de G3BP1, foi possível reverter, em modelos animais, algumas das características das doenças, incluindo défices motores”.
“Tratando-se de duas enfermidades para as quais não existe, atualmente, qualquer terapia que possa atrasar ou parar a sua progressão, os dados agora trazidos a público mostram-se especialmente relevantes numa perspetiva de futuro que possa almejar a passagem dos resultados agora obtidos em meio académico para a sociedade”, prossegue a nota.
A Universidade do Algarve recorda que esta investigação resultou já numa patente internacional e na criação de uma ‘start-up’ – a Aquracy Therapeutics – atualmente incubada nesta instituição. A doença de Machado-Joseph “apresenta uma predominância grande em Portugal, atingindo prevalência máxima a nível mundial em algumas ilhas dos Açores”, conclui a UAlg.