De acordo com uma pesquisa da cientista cabo-verdiana Anyse Pereira, licenciada em Genética Molecular e Biomedicina pela Universidade Nova de Lisboa, os feijões congo, o mais conhecido, e pedra, o mais resistente, podem ser a chave para a segurança alimentar em Cabo Verde, onde a importação massiva de alimentos alterou a dieta local com impactos na saúde das populações.
“O feijão sempre foi um dos alimentos de eleição e faz parte do cardápio de todos os cabo-verdianos. Está extremamente bem adaptado ao país, em termos de sustentabilidade e resiliência, e, em termos nutricionais, é muito completo”, explicou Anyse Pereira em entrevista à agência Lusa.
Segundo dados da Food and Agricultural Organisation, citados no artigo, Cabo Verde não atingiu ainda o objetivo de erradicação da fome e cerca de 5,3% da sua população sofre de insegurança alimentar.
Num artigo para a revista académica The Conversation, Anyse Pereira sublinhou que a dependência da importação de alimentos coloca Cabo Verde “numa situação vulnerável” no que diz respeito à segurança alimentar, vulnerabilidade acentuada com a pandemia de covid-19.
A investigadora explicou que a agricultura cabo-verdiana é baseada em alimentos como o milho e feijão, mas também na abóbora, mandioca, cana-de-açúcar, tomate e batata-doce, e a dieta da população depende principalmente de cereais (milho, arroz, e trigo), vegetais e peixe.
Tendo em conta esta informação, a cientista debruçou-se sobre a forma como as leguminosas poderão ajudar a prevenir e combater a insegurança alimentar, tendo concluído que os feijões cultivados no arquipélago são “uma excelente” e “relativamente barata”, fonte de nutrientes e minerais essenciais.
“O feijão seco é de baixo custo, baixo teor de gordura, baixo colesterol e baixa manutenção – equilibrado com elevado teor de macro e micronutrientes, fibra elevada, alta versatilidade e muito longo prazo de conservação”, indicou Anyse Pereira.
Da investigação, incluída no seu doutoramento em Conhecimento e Gestão Tropical, resultou a elaboração de uma lista das leguminosas utilizadas como alimento, dados sobre a sua distribuição no arquipélago e no mundo, bem como uma avaliação mais específica sobre as espécies consumidas e comercializadas na ilha de Santiago, a maior e mais populosa do país.
Para Anyse Pereira, este conhecimento pode ser utilizado na implementação de políticas públicas e no desenho de estratégias de conservação e valorização dos recursos naturais do país. Para além disso vai criar bases para alargar a investigação à valorização do conhecimento tradicional, onde se incluem além da alimentação, a medicina tradicional ou as técnicas tradicionais de agricultura.