13 de Outubro de 2016 As doenças transmitidas por alimentos estão subdiagnosticadas e subnotificadas, disse à “Lusa” uma investigadora, que estuda a segurança alimentar, salientando que os dados recolhidos representam apenas «uma pequena fração» das doenças que ocorrem na realidade. «Para a maior parte das doenças, o que é capturado pelas autoridades de vigilância da saúde públicas representa apenas uma pequena fração das doenças que ocorrem na realidade», uma situação que «é transversal à maioria dos países», adiantou Sara Monteiro Pires, que vai participar hoje no Fórum do Prado ao Prato – Informar para viver melhor. Segundo a investigadora do Instituto Nacional de Alimentação, da Universidade Técnica da Dinamarca, há dados de vigilância epidemiológica recolhidos pela direção Geral de Saúde, mas «ainda há muita subnotificação e subdiagnóstico», apesar do reconhecimento da importância da segurança alimentar ser crescente. «Portugal não está nada atrás de outros países europeus a nível de segurança alimentar. As autoridades e a indústria têm tido um papel extraordinário, sobretudo na última década, para prevenir doenças de transmissão alimentar. O que falta são dados», realçou. O número de casos reportados é sempre inferior ao número de casos reais, até porque nem sempre as pessoas doentes vão ao médico: «As pessoas que têm uma gastroenterite, a maior parte das vezes assumem que é autolimitante, que tem curta duração e que passa sem tratamento e quando vão ao médico estes nem sempre requisitam uma amostra», explicou a especialista. Normalmente, os casos reportados em Portugal estão associados a surtos, mais ou menos focados num grupo de pessoas que consumiram alimento contaminados e que ficaram doentes, o que leva a uma investigação e posterior notificação do surto. Mas «há com certeza muitos outros casos esporádicos, que não são diagnosticados e que não aparecem nas estatísticas», sublinha Sara Monteiro Pires. As doenças transmitidas pelos alimentos apresentam diferenças regionais. As últimas estimativas para a região europeia alargada, que abrange cerca de 50 países, indicam que os agentes mais importantes são bactérias e vírus que causam gastroenterites diarreicas, nomeadamente a Campylobacter, a salmonela e o norovirus. Em Portugal, ainda não há estimativas que permitam fazer um ranking de doenças com maior incidência, mas segundo Sara Monteiro Pires a salmonelose permanece no topo dos casos reportados. «Há imensos fatores que contribuem» para este tipo de doenças, mas a maior parte está associada a agentes com origem animal. A contaminação pode ocorrer nas várias fases da cadeia alimentar, mas a maior parte dos agentes acaba por morrer se os alimentos forem cozinhados de forma adequada. A especialista em avaliação de risco em segurança alimentar e saúde pública destacou igualmente a importância de pôr este tipo de doenças na agenda política para «mostrar que não são apenas um problema de países pouco desenvolvidos ou com fraca higiene». Os estudos que estão a ser desenvolvidos, explicou, permitem encontrar indicadores para comparar doenças, regiões, identificar os agentes mais importantes e identificar quais os alimentos mais importantes para intervir na segurança alimentar. |