Investigação: Sexo feminino e diabetes podem contribuir para a doença de Alzheimer 812

27 de fevereiro de 2017

Uma investigação desenvolvida por especialistas da Universidade de Coimbra (UC) concluiu que o sexo feminino e a diabetes tipo 2 podem contribuir para a doença de Alzheimer em ratinhos de meia-idade, foi hoje anunciado.

Os resultados do estudo sugerem que o sexo afeta de forma diversa a comunicação entre células do cérebro, através das diferentes hormonas sexuais, podendo também elas ser parcialmente afetadas pela diabetes tipo 2, revela a UC, numa nota enviada hoje à agência “Lusa”.

Uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC descobriu como «a produção e transporte de uma hormona sexual explica como o sexo feminino e diabetes tipo 2 contribuem para a doença de Alzheimer (DA) em ratinhos de meia-idade», afirma a UC.

As fêmeas de meia-idade apresentam uma redução de uma hormona sexual (o estrogénio) no cérebro que, com o envelhecimento, contribui para a neurodegeneração, disfunção cognitiva e sináptica, morte neuronal e doença de Alzheimer.

«A redução do estrogénio encontra-se associada à disfunção ovárica, que se inicia com o período que antecede a menopausa (perimenopausa), a qual pode ser acelerada pelo impacto da diabetes», sublinha a UC na mesma nota.

A investigação, publicada na revista científica “Molecular Neurobiology”, sugere que a redução do estrogénio pode ser explicada pela incapacidade de ser transportado da circulação sanguínea para o cérebro, podendo ocorrer o mesmo com o transporte do colesterol, envolvido na produção do estrogénio.

A incapacidade de transporte ocorre apesar de as fêmeas de meia-idade diabéticas tipo 2 terem níveis de colesterol no sangue mais elevados que os machos com a mesma idade, acrescenta a UC.

Ana Duarte, uma das autoras do estudo, explica que «o sexo feminino tem sido considerado como fator de risco para DA», particularmente após a menopausa.

«Pouco se sabe acerca dos eventos que precedem esta fase da vida», mas, destaca a investigadora, «os resultados do estudo sugerem que, pelo menos durante a meia-idade, o facto de se ser do sexo feminino ou masculino afeta de forma diferente a comunicação entre células do cérebro, através das diferentes hormonas sexuais, podendo também elas ser parcialmente afetadas pela diabetes tipo 2».

Apesar de as fêmeas de meia-idade apresentarem níveis de estrogénio no cérebro semelhantes ou menores que os dos machos, elas parecem ter desenvolvido mecanismos de adaptação de modo a manterem funcional a maquinaria que interage com esta hormona, combatendo a acumulação cerebral de elementos associados à doença de Alzheimer.

Alguns elementos protetores, como a insulina, podem explicar como as fêmeas apresentam menos marcadores patológicos da DA que os machos, sublinha a UC.

Ana Duarte salienta ainda que «ao demonstrar que diferentes perfis e ações dos diferentes sexos poderão ter um papel crucial no cérebro na presença da diabetes tipo 2, o estudo reforça a necessidade de estabelecer abordagens preventivas e/ou terapêuticas dirigidas a diferentes fases da vida (como a meia-idade) para potenciar os tratamentos na diabetes tipo 2 e na DA».

O estudo, que «obedeceu a um longo e rigoroso processo de recolha, armazenamento e processamento de amostras, de acordo com a legislação portuguesa e europeia em vigor», contou com a colaboração do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia e da Faculdade de Medicina da UC.

A investigação foi financiada por fundos europeus, através do Programa Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE 2020) e de bolsas atribuídas pelo do Fundo Social Europeu, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pelo Programa de Estímulo à Investigação da Faculdade de Medicina da UC.