INE: Alimentos disponíveis para cada português quase suficientes para dois adultos 1160


07 de abril de 2017

A quantidade de alimentos disponíveis para cada adulto em Portugal é quase duas vezes o consumo recomendado, uma oferta desequilibrada que tem vindo a afastar-se da dieta mediterrânica, revela hoje a Balança Alimentar Portuguesa (BAP) divulgada pelo INE.

«As disponibilidades alimentares para consumo no período 2012-2016, continuam a evidenciar uma oferta alimentar excessiva e desequilibrada que tem vindo a afastar-se progressivamente do padrão alimentar mediterrânico, ainda que na última década se tenham observado algumas melhorias», refere o Instituto Nacional de Estatística.

Neste período, que «ficou marcado pelo último ciclo recessivo, com epicentro em 2012», o que levou a que a generalidade dos grupos alimentares apresentasse disponibilidades inferiores às do período 2008-2011, estavam disponíveis para consumo 8,6 milhões de toneladas de alimentos brutos, exceto bebidas.

«A sua conversão em calorias revela um aporte calórico médio de 3.834 kcal (3.938 kcal no período 2008-2011), com um mínimo de 3.811 Kcal em 2012 (o nível mais baixo desde 2005) e um máximo de 3.895 kcal em 2016», refere a BAP, citada pela “Lusa”.

O valor recomendado por cada adulto é de cerca de duas mil calorias diárias.

Em média, cada português tinha disponível diariamente para consumo 213,3 gramas de carne, 54,3 gramas de pescado, meio ovo, 332,7 gramas de leite e produtos lácteos, 338,7 gramas de cereais, 217,1 gramas de batata, 288,2 gramas de hortícolas, 222,2 gramas de frutos, 8,0 gramas de leguminosas secas, 102,9 gramas de óleos e gorduras, 73,6 gramas de açúcar, 23,7 gramas de produtos estimulantes, 547,7 mililitros de bebidas não alcoólicas e 266,7 mililitros de bebidas alcoólicas.

Quando comparada com o padrão alimentar recomendado pela Roda dos Alimentos, há excesso de oferta de produtos alimentares dos grupos da “carne, pescado e ovos”, com 11,5 p.p. acima do consumo recomendado, e dos “óleos e Gorduras”, resultados que já se verificavam em edições anteriores da BAP.

Já a oferta disponível para os grupos de hortícolas, frutos e leguminosas secas é deficitária, com disponibilidades de -7,3 pontos percentuais e -6,8 pontos percentuais, respetivamente, adianta a BAP, que analisa a oferta de alimentos, enquadrando as disponibilidades alimentares e a respetiva evolução em Portugal, em termos de produtos, nutrientes e calorias.

O INE destaca ainda o «desvio negativo» do grupo leite e produtos lácteos de menos 0,7 pontos percentuais, quando em 2012 apresentava um desvio positivo de mais 1,6 p.p. face à Roda dos Alimentos.

Tendo em conta os valores de referência diários de vitaminas e minerais para um adulto, verificou-se que «as disponibilidades diárias ‘per capita’ destes microconstituintes estão acima destes limiares».
 
Analisando o inquénio 2012-2016, o INE refere que foram «várias as ocorrências com impacto nas disponibilidades alimentares», nomeadamente o período recessivo da economia (2011-2013), a extinção do regime de quotas leiteiras, o embargo da Rússia à carne europeia, a aplicação da Diretiva Bem-Estar Animal, as ações de sensibilização para hábitos de alimentação mais saudável.

«A alteração de hábitos alimentares e a extinção do regime de quotas leiteiras agravaram a redução do consumo aparente de leite, a situação de seca em 2012 reduziu ainda mais as disponibilidades de carne e os limites à captura de sardinha impostos no quadro das medidas de gestão adotadas para este recurso tiveram forte impacto na evolução das capturas de pescado», sublinha a BAP.