Estamos cientes que a COVID-19 veio impactar diversos setores de atividade económica Portuguesa, afetando a dinâmica de diferentes áreas de atuação, na qual a atividade pedagógica no ensino em Portugal não foi exceção.
É de conhecimento geral que o ensino tradicional compreende um contacto estreito entre professor e aluno, com partilha em tempo real de conteúdos técnico-científicos e experiências profissionais, sem esquecer a componente prática essencial para uma formação de excelência.
Contudo, a pandemia por COVID-19 interferiu na execução deste modelo convencional, obrigando as Instituições de Ensino Superior a refletirem sobre a metodologia de ensino, e a adaptarem-se a esta nova realidade, reformulando toda atividade pedagógica no sentido de não comprometer a qualidade do ensino. Mas será que não afetou?
A verdade é que toda a vida académica e rotinas de um universitário viram-se alteradas. As aulas habitualmente presenciais passaram a ser realizadas via online , obrigando toda a comunidade académica a reorganizar o seu dia-a-dia, geralmente caracterizado por grande agitação e correria entre a vida pessoal e o exercício profissional e estudantil, para uma forma de viver virtual, monótona e um pouco solitária.
Pelo que podemos aferir que a COVID-19 não afetou apenas a metodologia de ensino, mas que esta veio também prejudicar a componente social e humana, fatores estes essenciais e complementares de uma formação eficiente e de qualidade.
A componente prática, sendo o principal momento de aplicação dos conhecimentos adquiridos, é dotada de grande importância para a aquisição de novas competências e desenvolvimento de soft-skills. Infelizmente, também esta sofreu alterações, sendo que em muitos casos, e mais concretamente, nos cursos de saúde, nos quais as Ciências da Nutrição se insere, viram-se suspensas numa fase inicial. Deste modo, acreditamos que este impacto negativo no exercício prático do ensino afeta inevitavelmente a formação do futuro profissional de saúde.
De facto, este flagelo da atualidade, desencadeou uma bola de neve capaz de desestabilizar toda a prossecução do exercício pedagógico em saúde, que ao impactar o elemento prático do plano de estudos, prejudica a performance do estudante de saúde no contexto de estágio curricular.
Estágio curricular este, por norma realizado em locais de elevado risco de contágio, como hospitais, centros de saúde e IPSS, fica também comprometida a sua realização. Isto é, houve necessidade de reformular a execução deste momento de avaliação e aprendizagem, que implicou a suspensão ou adaptação a teletrabalho.
Todas estas alterações constituem uma enorme problemática ao nível da formação do futuro profissional de saúde, comprometendo também a prestação dos serviços destas áreas de atuação, onde o papel do nutricionista, embora determinante, ocupa um lugar escasso nestas entidades de saúde e de solidariedade social. Motivo este que justifica a necessidade e importância da inclusão de alunos estagiários nestes locais de atividade.
Estamos convictos que a COVID-19 trouxe desafios e uma certa exigência por transformações no Ensino Superior em Portugal.
Porém, acreditamos que esta demanda por adaptações continuará a emergir no decorrer da pandemia atual ou por qualquer outra situação impactante como esta. Pelo que é emergente pensar e refletir em novas soluções e estratégias que não perpetuem o comprometimento da atividade pedagógica, garantindo uma formação de qualidade dos estudantes de saúde.
Receamos, desta forma, que se não forem efetuadas medidas ajustadas às necessidades dos estudantes, todas estas implicações se refletirão futuramente no exercício profissional.
Mariana Mota e Marta Maganinho
ANEN – Associação Nacional de Estudantes de Nutrição