Impacto ambiental da carne, peixe e queijos: “Não temos de deixar de os comer, temos é de comer pouco” 3514

Refeições à base de plantas são melhores para o ambiente do que a carne, o peixe ou o queijo, ou pelo menos assim concluiu um estudo que analisou 57 mil produtos alimentares no Reino Unido e na Irlanda. Sobre isto, Helena Real, secretária-geral da Associação Portuguesa de Nutrição, disse em exclusivo à VIVER SAUDÁVEL: “As pessoas comem imensas quantidades de produtos de origem animal e aí está o problema”.

Intitulado “Estimating the Environmental Impacts of 57,000 Food Products”, o estudo publicado na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America) mostra que alimentos como o pão ou à base de plantas têm um baixo impacto ambiental, ao contrário do peixe, queijos ou carnes. “Substituir carne, laticínios e ovos por alternativas à base de plantas pode trazer grandes benefícios ambientais“, apontam os investigadores, citados na altura pela Lusa, que pretendem ajudar os consumidores a comprar de forma mais sustentável.

Com apenas 3% dos produtos analisados com uma composição completamente quantificada, os investigadores desenvolveram um algoritmo baseado nas informações conhecidas para avaliar o impacto ambiental sob quatro fatores-chave: emissões de gases de efeito estufa, uso de recursos hídricos limitados, uso da terra e também a eutrofização aquática (poluição da água). O pão, alguns cereais, certas refeições preparadas ou sobremesas, tal como bolos e bolachas, têm um impacto baixo ou intermédio, mostram os resultados da investigação.

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Também os refrigerantes ou outros sumos de fruta estão entre os produtos com menos impacto no planeta, por serem compostos maioritariamente por água, apesar da má qualidade nutricional. Num sentido oposto, peixes, queijos e carnes, especialmente vermelhas como cordeiro ou bovina, têm um grande impacto.

Boa comunicação é fundamental para combater o “radicalismo”

Reconhecendo que a investigação apresenta “elementos interessantes que permitem conhecer ainda melhor este mundo complexo do impacto ambiental dos alimentos”, corroborando “o que já sabíamos, algo importantíssimo no contexto das ciências”, Helena Real alerta para o perigo de uma comunicação pouco cuidada dos estudos por parte dos meios de comunicação. “Temos de verificar como a informação é traduzida para a comunidade em geral”, garante a nutricionista.

Helena Real

“De facto, pode haver produtos que tenham um menor impacto ambiental, mas não podemos esquecer que essa informação tem de ser cruzada com a componente nutricional, perceber o impacto que isso tem na saúde das pessoas”, explica, ao garantir que “é importante perceber o que a população come e o que dizemos à população para comer”. É aqui, lembra, que entra o nutricionista, para “saber traduzir esta informação de forma equilibrada”.

“Quem ler à primeira vista [as notícias que esta segunda-feira, dia 9, davam conta do estudo] pode dizer que para ter um impacto ambiental menor deve deixar de consumir produtos de origem animal, que de facto é o primeiro radicalismo que se verifica sempre que se fala de sustentabilidade ambiental”, fundamenta a secretária-geral da APN. “Não temos de deixar de os comer, temos é de comer pouco”, continua Helena Real.

Para tal, recorda, é fundamental “falar de uma alimentação equilibrada que contenha os vários alimentos que temos disponíveis e que nos permitem ter um bom suporte nutricional”. O padrão alimentar mediterrâneo mostra uma “alimentação equilibrada que contenha alimentos de origem vegetal e também animal”, conclui, explicando que, mesmo assim, é necessário “reduzir o consumo de origem animal e aumentar o consumo vegetal”.

Aceda aqui ao estudo publicado na revista científica PNAS.