Hospital São João avalia desnutrição infantil em São Tomé e Príncipe 643

18 de Maio de 2016

Nutricionistas e pediatras do Hospital São João, do Porto, pretendem reavaliar o estudo nutricional de crianças de São Tomé e Príncipe em idade escolar, com o objetivo de evitar a desnutrição e as doenças associadas a esta patologia.

A iniciativa vai dar continuidade a um projeto de intervenção, realizado entre 2009 e 2011, durante o qual foram avaliadas 1.300 crianças abaixo dos cinco anos, para identificar o seu risco nutricional e evitar mais do que uma doença e mortalidade precoce, indicou à “Lusa” a nutricionista Diana Silva.

Este é o «período da vida em que estão mais vulneráveis e que mais riscos pode trazer para a sua saúde e para o seu bem-estar», acrescentou a coordenadora do projeto.

Neste segundo momento, pretende-se verificar a evolução das crianças avaliadas, agora em idade escolar, para perceber se a primeira intervenção teve impacto, iniciativa que a nutricionista prevê ter início em 2017.

A formação de diferentes técnicos e unidades de saúde nas áreas da alimentação escolar, das necessidades nutricionais da criança e dos princípios básicos de alimentação saudável – com aproveitamento dos recursos alimentares locais – é outra das finalidades do projeto.

A primeira intervenção, em 2009, teve a participação da Faculdade de Ciências da Nutrição da Universidade do Porto e do Hospital Pediátrico Integrado do Centro Hospitalar São João, em parceria com o Hospital Ayres de Menezes, de São Tomé.

Durante os primeiros anos de trabalho no terreno, foi constatado que um número significativo de crianças padecia de desnutrição aguda, tendo estas sido sinalizadas às autoridades sanitárias do país para que fossem tratadas.

Verificou-se também, «tal como em outros países economicamente desfavorecidos», que «até aos seis meses, existe uma boa progressão no crescimento dos bebés devido à amamentação no peito».

«Depois disso é necessário a introdução de uma diversificação alimentar cuidada e de acordo com as recomendações internacionais, iniciando-se alguns problemas para a saúde da criança», explicou a nutricionista.

Outro dado indica que 42% das crianças observadas foram incluídas na dieta familiar aos sete meses e uma elevada percentagem não consome leite (74%) ou iogurte (40%), contrariamente ao elevado consumo de óleo alimentar (34%) e açúcar (33%).

Este resultado mostra «que a insuficiente formação e informação ao nível nutricional faz com que as famílias despendam os escassos recursos económicos em alimentos não essenciais e que não aproveitem os recursos locais», referiu a nutricionista.

«Só com planos de intervenção continuada, ao nível das populações, pode haver melhoria do estado de nutrição da criança e do seu agregado familiar», indicou Diana Silva, também vice-presidente da ONG Zoélife – Instituição para a Cooperação e o Desenvolvimento, parceira deste próximo projeto.

A Zoélife tem como objetivos a cooperação e desenvolvimento, podendo atuar em diferentes locais, embora assuma a opção de cooperação especial com a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Segundo a nutricionista, para além do trabalho de intervenção referido, existe «sempre a necessidade de sensibilizar as autoridades políticas e sanitárias locais» para que atuem no terreno.