Durante a passada sexta-feira, realizaram-se as 1as Jornadas do Serviço de Nutrição da Madeira, organizadas pelos Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira, com os principais objetivos de falar sobre o presente e o futuro da nutrição, entender os pontos positivos e aqueles que precisam de ser melhorados, perceber de que maneira é possível fazer um diagnóstico e também conhecer os guias de tratamento das áreas ligadas a doenças do foro nutricional.
A primeira conferência teve como tema a Avaliação do risco nutricional- como estamos… e o que fazer?. Amélia Teixeira, nutricionista, começou por fazer um enquadramento daquilo que é a nutrição e dos modelos a seguir quando existe um utente com risco de desenvolver problemas nutricionais (ou já desenvolvidos).
A nutricionista abordou, com principal relevo, a área da desnutrição, que, enquanto doença, tende a afetar o estado clínico do utente, uma vez que devido à “ingestão insuficiente, utilização ou absorção de energia e nutrientes” o doente mostra incapacidade de resposta para recuperar de uma doença. A desnutrição poderá, também, afetar pessoas com “excesso de peso, ou obesos conforme o seu índice de massa corporal”.
Amélia Teixeira assinalou diversas vezes que o panorama nutricional é desvalorizado e que induz à doença, assim como aumenta o tempo de estadia em hospitais. Os doentes hospitalares que permaneçam internados mais de 24 horas, segundo a nutricionista, devem obter um diagnóstico, assim como os doentes oncológicos em regime ambulatório. Alerta ainda para que quanto mais tarde um diagnóstico maior o custo, e mais complexo será o tratamento.
Sendo assim, é preciso capacitar os nutricionistas e demais grupos profissionais hospitalares de que o assunto deve ser mais estudado e deve cumprir os mecanismos de diagnóstico presentes nas plataformas de acesso médico.
A nutricionista mostrou alguns dados. Através do Nutritional Risk Screening 2002 (NRS), os dados referentes a 2005 revelaram que 34% de 262 utentes que deram entrada em hospitais corriam riscos nutricionais, sendo que 7,6% apresentavam desnutrição. Como forma de relembrar a importância que os dados em sistemas tem, Amélia Teixeira referiu a iniciativa Nutrition Day, que tem como objetivo fazer uma auditoria para avaliar de que forma é prestado o apoio nutricional aos doentes em meio hospitalar. Este ano acontecerá no dia 14 de novembro.
Amélia Teixeira sublinhou ainda que, em 2023 o Governo português emitiu um despacho que permite o alargamento de identificação de sistema de riscos nutricionais a todos os níveis de cuidados do SNS. O despacho, segundo a nutricionista, contempla o desenvolvimento de um manual técnico de apoio para a implementação de uma alimentação saudável.
Por fim, Amélia Teixeira revelou que para o Hospital Central do Funchal os casos de desnutrição são encarados como uma prioridade.
Sociedade deve saber mais sobre nutrição
Depois do enquadramento feito por Amélia Teixeira, houve oportunidade de ouvir três profissionais de diferentes áreas.
José Júlio Nóbrega, diretor clínico, foi questionado por Bruno Sousa, nutricionista e moderador da conversa, se é possível melhorar o sistema nutricional.
O diretor clínico afirmou que o problema principal é o da comunicação, mas mostrou-se otimista. Em contrapartida, realçou que os despachos elaborados pelo Governo não são feitos para quem recebe a mensagem, porque não é possível entendê-los de forma a aplicá-los.
José Júlio Nóbrega destacou ainda que a sociedade deve saber mais sobre nutrição e o modo a atuar diariamente. O diretor clínico felicitou, neste sentido, iniciativas que juntam a população para obter literacia em saúde, que é uma arma a favor do bem-estar.
Já José Manuel Ornelas, enfermeiro diretor, e outro dos intervenientes do painel, assumiu quem tem “esperança” pelo futuro, visto que pretende que todos se envolvam no trabalho para melhorar as condições relativas ao quadro nutricional dos utentes.
Lembra que no passado presenciou à criação de um grupo de trabalho multidisciplinar, que envolveu médicos, enfermeiros, nutricionistas e farmacêuticos, sendo que quando as várias equipas trabalham em conjunto atingem bons resultados.
Além dos profissionais de saúde foram chamados, para reforço, os serviços informáticos, uma vez que estes devem servir também para alertar os profissionais de saúde para quando não existe a introdução de dados.
O enfermeiro gostaria, no entanto, de ter indicadores das práticas atualizados, de forma célere, para que ajustes possam ser feitos em tempo útil.
Por seu turno, Luísa Gomes, representante do agrupamento de centros de saúde (ACES), assumiu que a prevenção é uma arma de combate, ainda que só seja possível havendo uma boa comunicação que alcance desde os mais jovens aos mais idosos.
Reforçou ainda que a comunicação emitida pelo Governo não chega e que se torna insuficiente por não haver forma de alcançar os objetivos. A representante dos ACES sublinhou que os despachos são úteis quando existem recursos que colaborem. Sistemas de comunicação online são essenciais, mas têm de estar operacionais para que seja possível a referenciam, e identificação do doente.
Amélia Teixeira concluiu o debate a dizendo que é importante que todos os prestadores de serviços de saúde tenham formação a todos os níveis. Reforçou ainda que o sistema informático deve jogar a favor do ambiente que o rodeia alertando os profissionais para seguir as práticas padronizadas.