O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, saudou esta quarta-feira (17) o prolongamento do acordo dos cereais do Mar Negro por mais 60 dias, considerando tratar-se de “uma boa notícia para o mundo”, embora admita “questões pendentes”.
“Temos alguns desenvolvimentos positivos e significativos: a confirmação por parte da Federação Russa de continuar a sua participação na iniciativa do Mar Negro por mais 60 dias”, disse Guterres na sede na ONU, em Nova Iorque.
“Congratulo-me com esta decisão. A continuação é uma boa notícia para o mundo. As questões pendentes permanecem. Mas representantes da Rússia, Ucrânia, Turquia e das Nações Unidas continuarão a discuti-los”, acrescentou, cita a Lusa.
O prolongamento do acordo sobre a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro foi esta quarta-feira anunciado pelo Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Guterres disse esperar que seja alcançado um acordo abrangente para “melhorar, expandir e prolongar a iniciativa”, tal como havia proposto numa carta enviada recentemente aos Presidentes dos três países envolvidos nas negociações.
“Quero expressar o meu agradecimento a todos aqueles que participam nas negociações num espírito de envolvimento construtivo”, afirmou o secretário-geral, dando especial destaque a Erdogan e ao Governo turco “pelos seus esforços e trabalho em coordenação permanente com as Nações Unidas”.
O ex-primeiro-ministro português aproveitou para reforçar a importância do acordo dos cereais para a segurança alimentar global, indicando que sob essa iniciativa já foram exportadas mais de 30 milhões de toneladas de alimentos – “o suficiente para alimentar 150 milhões de pessoas por um ano”.
“Suprimentos vitais de alimentos estão a chegar a algumas das pessoas e lugares mais vulneráveis do mundo – incluindo 30.000 toneladas de trigo que acabaram de deixar a Ucrânia a bordo de um navio fretado pelo Programa Alimentar Mundial para alimentar pessoas famintas no Sudão”, indicou.
Com um olhar para o futuro, Guterres disse esperar que as exportações de alimentos e fertilizantes – incluindo amónia – da Rússia e da Ucrânia possam alcançar as cadeias de abastecimento globais “com segurança e previsibilidade”, algo que as “Nações Unidas estão totalmente empenhadas em apoiar”.
Em teoria, as renovações do pacto deveriam ser válidas por 120 dias, mas a Rússia disse que só aceitaria um prolongamento de 60 dias.
Moscovo afirma que, apesar de as exportações de cereais ucranianos terem sido retomadas, as exportações russas de fertilizantes e produtos alimentares continuam limitadas por obstáculos relacionados com as sanções impostas pelos países ocidentais após o início da guerra russa na Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
Na quarta-feira, o Presidente turco indicou ainda que se está a trabalhar para criar as condições para que o acordo se mantenha depois desta nova extensão de 60 dias, que termina a 17 de julho, e expressou esperança de alcançar um cessar-fogo duradouro entre a Rússia e a Ucrânia que leve a um acordo de paz.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 448.º dia, 8.836 civis mortos e 14.985 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.