Cerca de meio milhão de pessoas vive uma situação alimentar catastrófica na Faixa de Gaza, que continua ameaçada pela fome, apesar de uma ligeira melhoria no norte do território sitiado, revela um relatório apoiado pela ONU.
Segundo o documento da Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC), em que se baseiam as agências da ONU, o acesso à ajuda humanitária permitiu evitar a fome temida na última avaliação publicada em março, mas 22% da população do território sitiado por Israel continua a enfrentar uma situação alimentar “catastrófica”, avança a agência Lusa.
O relatório sublinha que toda a Faixa de Gaza continua ameaçada por um “risco elevado e sustentado” de fome.
“O novo relatório revela uma ligeira melhoria em relação à avaliação anterior, de março, que alertava para uma potencial fome nas províncias do norte de Gaza até ao final de maio”, comentou o Programa Alimentar Mundial (PAM) em comunicado.
“Esta melhoria mostra a diferença que um melhor acesso pode fazer. O aumento das entregas de alimentos no norte e os serviços de nutrição ajudaram a reduzir os níveis mais graves de fome, deixando uma situação que, porém, continua desesperada”, sublinhou o PAM.
O último relatório do IPC, publicado em meados de março, estimava que mais de 1,1 milhões de habitantes de Gaza enfrentavam uma “situação de fome catastrófica”, próxima da fome, “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU.
No entanto, o PAM advertiu que, embora a situação estivesse a melhorar no norte, o risco de fome é agora maior no sul.
“As hostilidades em Rafah, em maio, deslocaram mais de um milhão de pessoas e limitaram gravemente o acesso humanitário. Entretanto, o vazio de segurança encorajou a ilegalidade e a desordem, dificultando seriamente as operações humanitárias”, lamentou a agência da ONU.
“O PAM receia agora que o sul de Gaza venha a experimentar em breve os mesmos níveis catastróficos de fome que os registados nas zonas do norte”, concluiu.
O encerramento do posto fronteiriço de Rafah e as perturbações no posto de Karem Shalom limitaram ainda mais o acesso da ajuda humanitária aos cerca de dois milhões de pessoas que vivem nas províncias do Sul.
A continuação da concentração das populações deslocadas em zonas onde a água, o saneamento, a higiene (WASH), a saúde e outras infraestruturas essenciais são significativamente reduzidas aumenta o risco de surtos de doenças, que teriam efeitos catastróficos no estado nutricional e sanitário da população.
Atualmente, 2,15 milhões de pessoas, ou 96% da população de Gaza, enfrentam níveis elevados de insegurança alimentar aguda (IPC 3 e superior) e 495 000 pessoas, ou 22% da população, continuam a sofrer de uma carência alimentar extrema (IPC 5).
Dada a imprevisibilidade do conflito em curso e as dificuldades de acesso à ajuda humanitária, qualquer alteração significativa pode conduzir a uma deterioração muito rápida da situação de fome, sublinha-se no comunicado.
“Só o fim das hostilidades e o acesso imediato, desimpedido e sustentado à ajuda humanitária podem reduzir o risco de ocorrência de uma situação de fome na Faixa de Gaza. A população de Gaza precisa de paz agora”, concluiu.
O IPC é uma iniciativa que envolve mais de 20 parceiros, incluindo governos, agências da ONU e organizações não-governamentais.