Gastrenterologistas pedem programa de rastreio usando serviços públicos e privados 1069

Estômago

A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia alertou para a necessidade de um programa nacional de rastreio para recuperar os exames não realizados no ano passado, sublinhando que há capacidade instalada nos serviços públicos e privados que deve ser aproveitada.

Segundo dados divulgados pela Sociedade Portuguesa de Gatrenterologia (SPG), no ano passado, foram disponibilizados menos 150 mil preparados intestinais, usados para que o intestino possa ser convenientemente observado, uma redução de mercado que ronda os 30%.

“Isto reflete aquilo que tivermos a perceção imediata durante o ano passado, que foi de uma enorme redução no número de procedimentos que fizemos, fosse com intuito de diagnóstico, fosse exclusivamente para aquilo que se chama o rastreio do cancro do cólon e reto”, disse à agência Guilherme Macedo, presidente da comissão da prevenção do cancro do colon da SPG.

Na véspera do Mês Europeu de Luta Contra o Cancro do Intestino, o responsável explicou que esta redução nos preparados vendidos “tem impacto em todas as frentes dos exames por colonoscopia”.

“Essa redução teve como consequência imediata indiscutivelmente uma redução do número de novos diagnósticos e, mais importante do que isso, uma redução do número de pessoas a quem podíamos evitar de todas as formas o aparecimento do cancro do cólon e reto”, acrescentou.

Guilherme Macedo sublinhou que a redução dos diagnósticos e dos diagnósticos precoces preocupa os especialistas.

“[Mas] preocupa-nos ainda mais a redução na prevenção, isto é, não pudemos fazer alguns exames em pessoas que têm aquilo que se chamam as lesões precursoras, que são pólipos que podem evoluir de uma maneira geral para lesões malignas”, afirmou.

Essas pessoas, insistiu, “não foram diagnosticadas e, portanto, não foram tratadas, o que significa que não tendo tido possibilidade de fazer essa prevenção poderão estar a desenvolver cancro do colon e reto e é para aí que queremos apontar todas as nossas baterias”.

“Se até ao ano passado já tínhamos visto que estávamos no limite da nossa da nossa capacidade instalada (…), o que agora estamos a ter é uma sobrecarga em cima daquilo que já era uma resposta que estava já a chegar a um ponto importante de saturação”, acrescentou.

Guilherme Macedo defendeu que há uma capacidade instalada em Portugal nos serviços de gastrenterologia públicos e privados para promover a prevenção endoscópica do cancro do cólon e reto e que essa capacidade “tem que ser majorada, explorada e utilizada”.

“Isso implica que haja uma visão integradora de todos estes protagonistas, isto é, deve-se pôr todos os profissionais competentes e capazes de fazer esta prevenção ao serviço deste grande objetivo que é a redução do número, e da mortalidade associada, de cancros de colon e reto”, considerou.

O especialista defendeu igualmente que tal implica um programa “de três, quatro e, eventualmente, cinco anos, em que claramente se compreenda que o método de prevenção ideal é mais que o rastreio (…)”.

“A prevenção faz-se com um procedimento em que nós estamos a olhar para a lesão e se decide se e quando é que podemos remover. Aí é que se faz a verdadeira prevenção”, reforçou.

“Se queremos mesmo reduzir a mortalidade e a importância do cancro do cólon e reto temos de ir para métodos de prevenção, mais do que métodos de rastreio. Se no mesmo procedimento fazemos rastreio e prevenção, estamos no melhor dos dois mundos que é isso que nós queremos oferecer aos portugueses”, concluiu.

Diariamente morrem em média 11 portugueses por cancro colorretal. A sobrevivência global aos cinco anos é de 50%, mas se o diagnóstico for realizado atempadamente, a sobrevivência ultrapassa os 90% quando detetado na primeira fase.

Segundo dados da Agência Internacional para a Pesquisa sobre Cancro (Globocan), da Organização Mundial da Saúde, no ano passado foram reportados em Portugal mais de 60.000 novos casos de cancro, dos quais 10.501 de cancro colorretal.

“Voltamos a insistir que o nosso objetivo é bem mais ambicioso e aquilo que as pessoas desejam não é detetar pequenos cancros, é evitá-los. É a diferença entre rastrear e fazer a prevenção”, concluiu Guilherme Macedo, presidente eleito da World Gastroenterology Organisation (WGO).