Gastrenterologista denuncia «imoral pressão» económica sobre os médicos 808

02 de Novembro de 2016

O presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) denunciou hoje uma «imoral pressão de índole económica» sobre os médicos de medicina geral e familiar para que estes sejam «restritivos na solicitação dos exames necessários, nomeadamente colonoscopias».

A propósito do Dia Europeu de Luta Contra o Cancro do Cólon, que se assinala amanhã, José Cotter alertou para o facto de estas «restrições» trazerem «consequências graves para os cidadãos, uma vez que não permitem o diagnóstico atempado da doença».

Estas restrições «também se podem virar contra os próprios profissionais de saúde por razões de responsabilidade médico-legal», acrescentou.

«A prevenção do cancro do intestino tem uma grande vantagem sobre os demais cancros, que se relaciona com o facto de através de uma colonoscopia ser possível detetar as lesões pré-malignas (pólipos) e removê-las num mesmo tempo, obtendo a cura», disse, citado pela “Lusa”.

De acordo com o gastrenterologista, tal «impede o desenvolvimento dessas mesmas lesões até à fase do cancro, com subsequente necessidade de cirurgia e outros tratamentos (quimioterapia e radioterapia, mais frequentemente)».

Para a efeméride, o presidente da SPG gostaria de passar a mensagem de que «a prevenção do cancro do colon é possível e tremendamente eficaz, desde que o cidadão adira ao que está recomendado».

Em Portugal, o cancro do cólon e do reto é o que mais mortalidade provoca em Portugal. Só em 2014, houve sete mil casos da doença, com a mortalidade a cinco anos a ser de 50%.

Para José Cotter, estes números devem-se «à falta de prática de um quotidiano sadio, com combate à obesidade, ao sedentarismo, ao tabagismo e em contraponto ao estimulo de uma alimentação saudável do tipo da dieta mediterrânica com privilegio das hortaliças, frutas, cereais, azeite, peixe e líquidos em abundancia, associados a exercício físico regular».

«Existe uma prevenção secundária deficiente com défice de cidadãos rastreados no momento certo. Torna-se necessário implementar um rastreio organizado, ainda que tenha de se criar uma linha de financiamento específica, que seria gratificantemente «amortizada» em vidas humanas, diminuição do absentismo, poupança com tratamentos e melhoria da qualidade de vida das populações», prosseguiu.

Segundo José Cotter, «vários exames são possíveis de fazer, mas, com exceção da colonoscopia, todos se revelam muito insuficientes para a deteção das lesões pré-malignas atrás citadas».

«E esse é o objetivo que deve ser perseguido. Porque detetar um cancro precoce, se bem que sendo melhor do que diagnosticá-lo em fase avançada, já vai implicar cirurgia e tratamentos muito onerosos, que condicionam muito a qualidade de vida e apenas permitem que esta doença tenha uma sobrevivência global aos cinco anos de cerca de 50%», concluiu.