16 de janeiro de 2017 O novo responsável da FAO em Portugal afirmou que a iniciativa brasileira “Fome Zero” inspirou várias agências da ONU e outros países no combate à fome e, de forma geral, o projeto brasileiro obteve êxitos. «O trabalho das últimas décadas no Brasil (no combate à fome) foi, de facto, uma fonte de inspiração muito importante para o conjunto das agências da ONU», declarou à “Lusa” Francisco Sarmento, Chefe do Escritório de Informação da FAO em Portugal e junto da CPLP. O “Fome Zero” foi uma iniciativa governamental brasileira, criada em 2003, composta por vários programas para o combate à fome e à miséria no Brasil durante o Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2011). Desde 2012, o brasileiro José Graziano da Silva, um dos responsáveis pela implementação do “Fome Zero” no Brasil, é o diretor-geral da FAO. «Eu fiz uma análise há seis anos sobre o tema, no âmbito de uma avaliação da cooperação da FAO com o Brasil, e verifiquei que os programas desenvolvidos pelo país influenciaram fortemente, não só a realidade brasileira, mas também os próprios programas da FAO» desde a década de 2000, disse Sarmento, que assumiu o cargo de representante da FAO em dezembro. O responsável afirmou que uma das agências que se inspirou no “Fome Zero” foi o Programa Alimentar Mundial (PAM), que sempre apoiou, por exemplo, os programas de alimentação escolar e «passou a fazê-lo com uma outra abordagem». «[O PAM] envolveu as populações locais no fornecimento de alimentos para a alimentação escolar, algo que foi testado no Brasil e que deu certo em alguns locais, mas em outros não», referindo que há sempre especificidades que devem ser observadas. «O padrão cultural comum, sendo o Brasil o país mais africano das Américas, facilitou a transposição para África de ensinamentos, de experiência e ainda o desenvolvimento de laços de confiança», disse, referindo-se a muitos Governos africanos que resolveram implementar medidas inspiradas no “Fome Zero”. A iniciativa brasileira também teve o seu impacto e influenciou medidas de combate à fome nos países da CPLP, de acordo com Francisco Sarmento. «Penso que a nossa análise tem de ser feita de um ponto de vista mais macro, pois até a tentativa de implementação do “Fome Zero”, o mundo estava muito carente de uma liderança política que colocasse a fome no centro do processo do desenvolvimento e isso aconteceu, de facto, no Brasil», disse. Segundo Sarmento, os programas desenvolveram-se com razoável sucesso no Brasil, já que 30 milhões de pessoas deixaram de estar no mapa da fome e, ao ver a trajetória história do país, considerou que «foi positivo e talvez tenha sido um grande legado». «Temos de ter em conta que o Brasil é quase um continente e os programas do “Fome Zero” podem ter dado certo num estado e noutro não, podem der dado mais certo num município e do que noutro», indicou, referindo que isto também pode acontecer nos outros países que se inspiraram na iniciativa. «A implementação do conjunto de programas do “Fome Zero” deveu-se a uma prioridade política do tema no Brasil. Se essa prioridade política deixar de existir, naturalmente, podemos ter algum receio de que a iniciativa possa mudar de rumo ou eventualmente perder alguma da força que tinha. Isso, só o futuro dirá», avaliou. |