Fome em Gaza, subnutrição na Venezuela 381

A crise humanitária em Gaza continua a colocar os palestinianos numa situação de fome dramática, ao passo que na Venezuela milhões de cidadãos sofrem de desnutrição.

ONU alerta para fome em Gaza

Agências da ONU alertaram para o risco de níveis catastróficos de fome voltarem a ser registados na Faixa de Gaza e para o agravamento da crise sanitária na Cisjordânia ocupada. O Programa Alimentar Mundial (WFP, na sigla em inglês) da ONU disse na sexta-feira temer que a fome sentida anteriormente no norte de Gaza regresse, mas agora ao sul do enclave palestiniano, numa altura de elevadas temperaturas.

Num comunicado, citado pela Lusa, o WFP sublinhou que atualmente um milhão de pessoas, expulsas da cidade de Rafah pela ofensiva israelita, se encontram “numa zona muito congestionada junto à praia, sob o calor escaldante do verão”.

“O número de vítimas civis é devastador e a persistência de um ambiente operacional hostil torna quase impossível às operações humanitárias entregar a ajuda alimentar desesperadamente necessária”, lamentou o vice-diretor executivo da agência.

“Os funcionários [do WFP] passam cinco a oito horas por dia à espera nos postos de controlo (…). Também enfrentamos saques e violência no meio de um grande vácuo de segurança”, alertou Carl Skau. As declarações surgiram após uma visita de três dias à Cisjordânia, Gaza e Jerusalém, onde o dirigente se reuniu com funcionários, organizações parceiras e cidadãos palestinianos.

Cinco milhões de venezuelanos sofrem de subnutrição

Pelo menos cinco milhões de pessoas sofrem de subnutrição na Venezuela, com a insegurança alimentar a aumentar e a refletir-se em mais casos de desnutrição infantil, alertou a Cáritas Venezuela.

“Não sabemos o que poderá acontecer. Saímos de uma tremenda falta de abastecimento para voltarmos a ter o mercado abastecido (…). A disponibilidade de alimentos melhorou, mas o acesso [o poder de compra] (…) está a limitar a capacidade de comer e a incerteza de quanto é possível comer”, disse sexta-feira a nutricionista e porta-voz da Cáritas Susana Raffalli, citada pela Lusa.

Em declarações à rádio católica Fé e Alegria, Raffalli explicou que na Venezuela não há dados oficiais sobre a desnutrição, mas que é possível obter estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, que analisa anualmente a situação dos países sem acesso adequado a reservas alimentares.

A nutricionista disse também que a segurança alimentar das famílias tem três dimensões: a oferta no mercado, a capacidade de comprar e que os alimentos possam ser devidamente utilizados com recursos como água e gás para cozinhar, e que estejam em boas condições.

Raffalli explicou ainda que, no caso das crianças, a UNICEF tem provas da prevalência de desnutrição aguda e rápida perda de peso e de massa muscular, frequentemente causada pela falta de alimentos ou por uma doença grave.

A porta-voz disse que neste tipo de desnutrição, os meninos são visivelmente mais magros e que as meninas apresentam atraso no crescimento, por não receberem os nutrientes de que necessitam durante um longo período de tempo, resultando numa altura inferior à média.

“Estamos a ter taxas muito elevadas de atraso de crescimento. Era 12% em 2007 e agora é mais de 30%: três em cada dez crianças que chegam à Cáritas estão raquíticas. Perdeu-se a oportunidade de crescerem. E as meninas são as mais afetadas, com estatura mais baixa”, explicou Raffalli.

A Cáritas Venezuela está a analisar os dados das famílias que pediram ajuda para identificar as estratégias que implementam quando não têm nada para comer.

Perante a insegurança alimentar, 60% das famílias tinham reduzido o número de refeições por dia, assim como a quantidade de alimentos.

“Há também dados sobre a ingestão de alimentos que prefeririam não comer. Esta é uma das coisas que mais dói, porque tem a ver com a dignidade e com o facto de sentir-se respeitado”, disse.

Raffalli referiu que 52% das famílias manifestou intenção de abandonar a zona onde vivem porque esgotaram os recursos e que 70% já gastaram todas as poupanças para comprar alimentos.

A nutricionista denunciou que as caixas de alimentos a preços subsidiados, distribuídas pelo Governo, “muitas vezes não chegam em boas condições” e que alguns venezuelanos optam por comprar comida “que está prestes a decompor-se porque é mais barata”.

Raffalli recomendou ao Estado aprofundar os programas de proteção social em matéria de nutrição.