Fitoestrogénios na menopausa: estará a resposta no microbiota intestinal? 3084

Com o aumento da esperança de vida, torna-se imperativo explorar e fomentar a discussão do momento marcante na vida de todas as mulheres e que se reflete numa alteração hormonal, fisiológica, que dura mais de um terço das suas vidas – a menopausa.

A menopausa ocorre habitualmente entre os 45 e 55 anos e está associada a alterações hormonais com eventuais manifestações em vários sistemas, como sintomas vasomotores (ondas de calor e suores noturnos), secura vaginal, dispareunia (dor vaginal), entre outras, afetando a qualidade de vida da mulher.

O microbiota intestinal sofre alterações ao longo do ciclo de vida, e com a menopausa estão descritas alterações na razão Firmicutes/Bacteroidetes, uma menor abundância e diversidade microbiana, o que pode contribuir para o aumento do risco de doenças crónicas não-comunicáveis como a obesidade e diabetes tipo 2.

Para atenuar a sintomatologia associada à menopausa, diferentes sociedades científicas e médicas internacionais estabelecem como estratégia, a promoção do consumo de alimentos ricos em fitoestrogénios (isoflavonas), como a soja, as ervilhas e o feijão, e as sementes de linhaça e de sésamo, devido à sua semelhança estrutural com o 17-β-estradiol que lhes confere atividade estrogénica. Esta recomendação, sempre em associação à promoção de estilos de vida saudáveis.

Após ingestão, os fitoestrogénios podem ser hidrolisados por enzimas hidrolíticas da bordadura em escova do intestino delgado e podem posteriormente no cólon ser desconjugados em equol, genisteína, urolitinas e enterolignanos através da relação sinérgica de bactérias intestinais como Eggerthella sp., Adlercreutzia equolifaciens, Lactobacillus mucosae, Enterococcus faecium, Finegoldia magna e Veillonella sp., que têm atividade enzimática distinta (β-glicurosidases, β-glicosidases, redutase da tetrahidrodaidzeína, entre outras). Esta biotransformação pelo microbiota intestinal é essencial para a absorção, a biodisponibilidade e a ligação destes metabolitos aos recetores de estrogénio nos diferentes tecidos. No epitélio vaginal, promovem alterações fisiológicas, incluindo o aumento de secreção de muco e da espessura epitelial e o aumento de Lactobacillus. Mais ainda, uma meta-análise de 543 estudos, onde foi avaliada a eficácia dos fitoestrogénios no alívio dos sintomas da menopausa, mostrou que estes fitoquímicos reduzem a frequência de sintomas vasomotores (ondas de calor e suores noturnos) em mulheres na menopausa sem efeitos adversos graves. Num estudo de intervenção em mulheres pós-menopausa com a duração de 6 semanas, a administração diária de proteínas de soja (contendo isoflavonas) mostrou efeitos vasodilatadores positivos. Não obstante, diferentes revisões sistemáticas com meta-análise que apontam para uma falta de benefício claro dos fitoestrogénios, reconhecendo a heterogeneidade dos estudos e também um “efeito placebo” considerável.

De facto, os benefícios do consumo de fitoestrogénios nos sintomas da menopausa podem não ocorrer em todas as mulheres, em parte devido às diferenças inter-individuais da composição do microbiota intestinal (fator frequentemente não considerado nos estudos) que dita a capacidade de produzir, ou não, os metabolitos dos fitoestrogénios, ou seja, responsável pela bioativação destes compostos. Por exemplo, as mulheres produtoras de equol apresentam maior abundância dos géneros Lactobacillus, Bifidobacterium e Prevotella, que têm maior capacidade enzimática de responder a uma intervenção com fitoestrogénios. Atualmente, na prática clínica, a caracterização do microbiota intestinal não é feita de rotina impossibilitando a concretização de uma abordagem personalizada.

Importa ainda referir que mesmo mulheres na menopausa que não têm esta capacidade enzimática otimizada podem beneficiar do consumo de alimentos ricos em fitoestrogénios pelos seus reconhecidos efeitos na saúde cardiometabólica, nomeadamente aumento da sensibilidade à insulina, diminuição da inflamação e da lipólise que, por sua vez, reduzem o risco de diabetes tipo 2 e doença cardiovascular. Estes efeitos benéficos podem ser explicados pela riqueza de outros nutrientes (fibra alimentar, vitaminas e minerais) presentes na matriz alimentar.

Posto isto, todas as mulheres beneficiam do consumo dos alimentos ricos em fitoestrogénios. No entanto, diferente é a situação da menopausa farmacológica, em mulheres com tumores estrógeno-dependentes. Nestas situações não está indicada a exposição a isoflavonas. O mesmo para mulheres com o diagnóstico de tumores hormono-dependentes, mesmo que ainda não em menopausa, deve ser feito o reforço para retirar fontes de xeno-estrogénios como são as isoflavonas (de origem natural) ou outros de origem antropogénica.

A caracterização do microbiota intestinal de uma mulher em menopausa deverá ser uma prioridade para ser possível estabelecer intervenções alimentares mais personalizadas que terão, em última instância, um maior impacto na qualidade de vida.

No entanto, qualquer abordagem terapêutica na menopausa, como noutras fases de vida, deve ser multidisciplinar, não deve ser promovida a auto-prescrição nem que prescrições de diferentes profissionais de saúde entrem em conflito gerando interações farmacológicas. A escolha das isoflavonas numa terapia hormonal de substituição deve ser sempre decisão articulada com o médico ginecologista.

Inês Castela (4400N)
Investigadora júnior ProNutri, CINTESIS, NOVA Medical School, UNL
Shámila Ismael (3707N)
Investigadora júnior ProNutri, CINTESIS, NOVA Medical School, UNL