Estudo português mostra que comida de rua tem pouca fruta e hortícolas 920

Um estudo, realizado por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), concluiu ser pouca a oferta de fruta e hortícolas nos locais de venda de comida de rua.

O trabalho, denominado por “FEEDCities”, foi financiado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde da Federação Russa, e contou com a colaboração de investigadores da Faculdade de Medicina, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação e Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.

O estudo, que teve como objetivo “analisar o ambiente urbano de comida de rua” em cidades da Ásia Central e da Europa do Leste, contou ainda com a colaboração de inquiridores locais, agências da OMS e institutos de saúde pública de cada país.

O projeto teve inicio em 2016, e analisou 2.850 locais de venda de comida de rua em Dushanbe (Tajiquistão), Bishkek (Quirguistão), Chisinau (Moldávia), Sarajevo e Banja Luka (Bósnia-Herzegovina), Almaty (Cazaquistão) e Ashgabat (Turquemenistão).

Estas cidades foram as escolhidos para esta análise por se ter verificado um aumento acentuado de doenças crónicas não transmissíveis [como as doenças cardiovasculares e o cancro] nestes países, assim como pela falta de dados recolhidos de forma sistemática sobre fatores de risco relacionados com a alimentação.

Nestas sete cidades, foram avaliados os locais de venda, os produtos prontos a consumir, os compradores, as suas compras e a composição nutricional dos produtos vendidos.

Os alimentos recolhidos corresponderam aos “mais disponíveis” em cada uma das cidades, incluindo alimentos caseiros e alimentos industrializados, como snacks, salgados, doces, bolachas e refrigerantes.

No geral, os alimentos frequentemente disponíveis apresentavam um perfil nutricional “pouco saudável”, com elevados teores de energia, gordura e sódio. Já as compras apresentavam “elevada densidade energética”.

A elevada disponibilidade de refrigerantes e baixa disponibilidade de fruta e produtos hortícolas prontos a consumir foi um dos pontos em comum, em todos os locais de venda, em todas as cidades.

A par dos alimentos industrializados, alguns alimentos caseiros também apresentaram altos teores de ácidos gordos, o que poderá refletir “práticas culinárias menos saudáveis como a fritura e o uso frequente de gorduras de menor qualidade nutricional na confeção destes alimentos”, indica o estudo.

Nestes alimentos foram encontradas as principais fontes de sódio, especialmente nos pratos principais à base de carne, nos pastéis e snacks salgados, o que “pode indicar uma utilização excessiva de sal ou ingredientes ricos em sódio”.

Face aos resultados, os investigadores aconselham uma intervenção no âmbito da nutrição e da saúde pública, com o intuito de melhorarem estes ambientes alimentares.

Limitar a disponibilidade de produtos alimentares ultra-processados ricos em gordura saturada, ácidos gordos, açúcar e sal, e uma maior consciencialização dos vendedores e consumidores relativamente à composição nutricional da comida de rua, podem ser algumas das medidas a impor.

O estudo está a ser, neste momento, implementado em Tbilissi, na Geórgia, e que o intuito da equipa é alargá-lo a outras cidades para conseguir uma visão mais completa dos ambientes de comida de rua nestas regiões.

Os investigadores pretendem realizar “estudos subsequentes nas cidades já avaliadas para aprofundar o conhecimento relativamente a outros fatores”, tais como a frequência e determinantes do consumo de comida de rua nestas populações, práticas culinárias e ingredientes usados.