Estudo indica que ambiente contribui para a obesidade infantil 1597

Segundo um estudo realizado por uma equipa do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), publicada no American Journal of Human Biology, o ambiente contribui para as diferenças de género na atividade física e na obesidade infantil.

Trata-se de um estudo que avalia a relação entre o ambiente e as diferenças de género na atividade física e nas taxas de prevalência da obesidade infantil.

No sentido de avaliar em que medida a atividade física influencia a prevalência da obesidade infantil por género, este estudo avaliou 2253 crianças de 19 escolas públicas e privadas do distrito de Coimbra, com idades compreendidas entre os 6 e os 11 anos (49,3% meninas e 50,7% meninos).

Observou-se que as meninas apresentaram valores mais altos de excesso de peso e obesidade em comparação com os meninos (25,1% e 20,1%, respetivamente).

Também que o envolvimento em práticas desportivas organizadas fora da escola é maior nas crianças do sexo masculino (73,8% nos meninos e 66,5% nas meninas). Prática desportiva esta que tem um impacto positivo no peso das meninas, mas pouca influência no peso dos meninos.

Posto isto, os investigadores tentaram identificar os fatores ambientais que explicam a diferença de género na obesidade infantil.

Nesse sentido, avaliaram a oportunidade de prática desportiva no concelho de Coimbra através de um questionário realizado em várias entidades desportivas, com oferta de atividades para a faixa etária entre os 6 e 11 anos.

Das 33 instituições que responderam a este inquérito, constatou-se que a disponibilidade de atividades desportivas é discriminatória, pois “das 23 modalidades identificadas, 13 apresentam frequência mista, 7 são frequentadas exclusivamente por meninos e apenas três estão voltadas para as meninas (dança, ballet e ginástica). Esta realidade prejudica as oportunidades de as meninas praticarem desporto fora da escola, o que é, só por si, uma desvantagem social”, indica o estudo.

Para além disso, “verificou-se que a prevalência da obesidade é maior em crianças de classes sociais mais baixas, que são também as que têm menos condições de pagar atividades desportivas fora da escola. Por isso, não só é necessário criar mais oportunidades para as meninas se envolverem nos seus desportos favoritos, como também proporcionar modalidades desportivas para a frequência fora da escola a um custo que as famílias com menores condições económicas possam suportar”.

Nesse sentido, os investigadores, de modo a combater a obesidade infantil e promover a igualdade de género na prática desportiva, sugerem “a atribuição de incentivos (subsídios) de apoio às instituições que oferecerem às crianças mais pobres oportunidades de acederem à prática de desporto fora da escola; a alteração do currículo no ensino básico, introduzindo mais tempo para atividade física obrigatória”.

Este estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e faz parte do projeto de investigação “Desigualdades na obesidade infantil: o impacto da crise económica em Portugal de 2009 a 2015”.