Um estudo de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), publicado revista “Science Signaling“, chama a atenção para consequências futuras do consumo repetido de álcool em excesso.
O artigo denominado por “Daily alcohol intake triggers aberrant synaptic pruning leading to synapse loss and anxiety-like behavior“, é da autoria de Renato Socodato, Joana F. Henriques, Camila C. Portugal, Tiago O. Almeida, Joana Tedim-Moreira, Renata L. Alves, Teresa Canedo, Cátia Silva, Ana Magalhães, Teresa Summavielle e João B. Relvas.
Esta investigação do i3S estudou o impacto da ingestão de doses equivalentes a cinco bebidas por dia no homem, durante um período de 10 dias.
O estudo demonstrou que o consumo repetido de álcool em quantidades excessivas atua diretamente na microglia (células imunes do sistema nervoso central) e faz com que esta elimine parte da comunicação entre neurónios (sinapses) em áreas específicas do cérebro, levando ao aumento dos níveis de ansiedade.
“A comunidade científica é unânime ao afirmar que doses elevadas de álcool causam deficits cognitivos consideráveis e que isso contribui para o desenvolvimento de demência, mas este trabalho mostra que mesmo períodos relativamente curtos do consumo repetido de álcool em excesso são suficientes para que exista perda sináptica, o que pode por si ter consequências a médio/longo prazo”, explicou Teresa Summavielle, líder do grupo de investigação do i3S “Addiction Biology“, coordenadora deste estudo, à Universidade do Porto (UP).
Os investigadores indicam que estudaram “as vias de sinalização que causam a eliminação dessas sinapses específicas e conseguimos, com recurso a fármacos já utilizados na clínica, prevenir o aumento de ansiedade induzido pelo consumo repetido de álcool”.
“Fármacos que são normalmente utilizados contra o cancro (anti-neoplásicos). Drogas que já estão no mercado e que podem ser usadas neste contexto para prevenir perdas sinápticas induzidas pelo álcool que levam ao aumento de ansiedade”, indicou Camila Cabral Portugal, uma das investigadoras, também em declarações à UP.
João Bettencourt Relvas, líder do grupo de investigação “Glial Cell Biology” do i3S e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), sobre este estudo concluiu que o uso do álcool tem um impacto negativo na vida de milhões de pessoas em todo o mundo e “está normalmente associado a défices na transmissão sináptica e na função da microglia nos seus consumidores, assim como em modelos animais de intoxicação alcoólica”.
Lembrar que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), através das suas Unidades de Alcoologia, recomenda que não se ultrapassem as duas bebidas por dia, ou as 10 bebidas por semana. O consumo de álcool é considerado excessivo sempre que ultrapassa quatro bebidas por dia nas mulheres, e cinco bebidas por dia nos homens.
Pode consultar o estudo aqui.